Pages

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

NoCinema: 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO

12 Years a Slave-EUA
Ano: 2013 - Dirigido por: Steve McQueen
Elenco: Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender, Nupita Nyong´o

NOTA: «««««

Sinopse: Esta história, baseada em fatos reais, apresenta Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um escravo liberto que é sequestrado em 1841 e forçado por um proprietário de escravos (Michael Fassbender) a trabalhar em uma plantação na região de Louisiana, nos Estados Unidos. Ele é resgatado apenas doze anos mais tarde, por um advogado (Brad Pitt).


É extremamente triste, durante a temporada de prêmios, quando um filme começa a mostrar sinais de favoritismo, principalmente para ganhar o Oscar, muitos o verem e diminuírem a obra a um mero exemplar encomendado unicamente para prêmios. Obviamente que o Oscar não significa sinal de qualidade, afinal, já vimos muitos filmes inferiores levando o maior prêmio enquanto aqueles de fato merecedores saindo de mãos abanando. 

O Oscar é importante? Muito. É um premio que agrega alto valor comercial? Sem dúvida! É político? Sim. Mas também não significa que a tal chamada Academia nunca premie filmes bons. A verdade é que sempre haverá discordâncias por se tratar de opiniões. Não acredito que um “crítico” avalie um filme observando apenas o seu valor técnico. Sempre existirá sua opinião presente ali. 


Portanto, as críticas a este “12 Anos de Escravidão” durante essa temporada, definido por alguns críticos como um “típico exemplar de Oscar” que se utiliza da violência da escravidão para impressionar o público e abusa do drama para “abocanhar algumas estatuetas”, é realmente diminuir a obra a um patamar pífio e deixar de discutir o rico material que esta apresenta. Temos até um determinado jornalista brasileiro que assume não ter visto, mas mesmo assim criou sua lista de 16 motivos para não assistir “12 Anos de Escravidão”. Então, por um lado, ser reconhecido com prêmios muitas vezes não é tão vantajoso como aparenta. 

Mas agora voltando nossa atenção totalmente para o filme, “12 Anos de Escravidão” aborda não apenas um assunto difícil sobre um momento histórico desumano e sanguinário da história das Américas, como o faz sem medo de mostrar a violência crua e sem propósito dos brancos, utilizando-se de um olhar altamente esnobe ao retratar até mesmo os “bons senhores de fazenda” como pessoas que, se mostram éticas e religiosas, mas não abrem mão da escravidão e nada fazem contra ela. 


Aliás, em “12 Anos de Escravidão” temos vários pólos que exemplificam os diferentes tipos de homens que existiam no período escravista. Encarnado por atores de nome, o diretor Steve McQueen apresenta o branco comerciante de escravos interessado apenas no lucro (Paul Giamatti); o senhor de fazenda que evangeliza os escravos, mas nada faz por eles (Benedict Cumberbatch); o capataz sem escrúpulos (Paul Dano); o senhor de fazenda violento e implacável no seu ódio pelos negros (Michael Fassbender); e também, fugindo a regra, o homem branco de bom coração (Brad Pitt). Cada um desses personagens exemplifica uma realidade do período, os diferentes tipos de homens, e seus distintos atos de violência contra os negros. 

Outro ponto forte em “12 Anos de Escravidão” é a sua violência. McQueen não cria uma violência gratuita existente ali unicamente para se ter um impacto. Tais cenas conseguem ser impactantes não pelo ato em si, ele também, porém, principalmente por exprimir um ódio sem motivos de uma raça por outra raça. O que leva um ser humano a ter tais atitudes? O porquê disso? São perguntas que McQueen faz e responde em cena, através da imagem. 


Vamos ao elenco. Chiwetel Ejiofor encarna com fervor o protagonista Solomon Northup, negro livre que é enganado por dois companheiros de trabalho e vendido como escravo, resultando nos 12 anos de escravidão apresentado no título. Ejiofor é uma força da natureza que exprime, seja através de um olhar distante, ou de um mexer dos lábios, as dores da injustiça sofrida. Do mesmo modo é Nupita Nyong´o, uma revelação, que traz consigo anos de sofrimento e abuso, passados com tanta entrega que a atriz é mais do que merecedora do Oscar de Coadjuvante. E completando o trio de destaques, Michael Fassbender é um furacão em cena na pele do inescrupuloso Edwin Epps, um escravocrata senhor de fazenda que acredita piamente na violência como ferramenta de ensino e obediência. 

A trilha sonora composta por Hans Zimmer, que foi indicada ao Oscar, é carregada da simplicidade dos escravos. Composta por barulhos de panelas, correntes, Zimmer cria uma percussão angustiante e tenebrosa que exerce forte poder na condução da história. 


Podem falar o que for, mas “12 Anos de Escravidão” é desde já uma obra essencial e importante relacionado à escravidão. Adotado como material de estudo obrigatório em todas as escolas norte-americanas, o filme é um daqueles trabalhos que será lembrado sempre como um dos mais importantes filmes sobre o assunto. E merece nossa atenção sim! Recomendado!

Comentário por Matheus C. Vilela

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

APOSTAS OSCAR 2014

HI HO NERDS!!! O Oscar está chegando, dia 02 agora, e vamos a minha anual aposta de quem acredito que vai levar a estatueta mais cobiçada do cinema. Este ano vou fazer um pouco diferente. Ao invés de  só colocar quem acredito que será o vencedor, vou por também quem eu quero que ganhe. 

Faça o mesmo nos comentários, poste suas apostas e bom Oscar para todos!

MELHOR FILME


Minha aposta: 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO. Um filme poderoso que relata a escravidão da maneira crua e tempestuosa que foi. Um tema ainda bastante discutido nos EUA, um dos países com maior índice de preconceito no mundo, transmitido sob a visão de um diretor negro através de uma história real que atesta a maldade humana pelo simples prazer. O filme foi recentemente colocado como material obrigatório em todas as escolas norte-americanas. É o grande favorito.

Quem eu quero que ganhe: 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO ou GRAVIDADE ou O LOBO DE WALL STREET ou CAPITÃO PHILLIPS. A Academia este ano acertou na escolha dos indicados, só tiraria "Trapaça" que ainda não consigo entender o enorme alvoroço da crítica norte-americana pelo filme, entretanto, os quatro citados acima são os meus prediletos entre os indicados e cada um deles, ganhando ou não, são obras imperdíveis e de grande valor para o cinema. "Gravidade" é um excelente exemplo de como contar uma história simples utilizando a tecnologia a favor do conteúdo. "Capitão Phillips" é um Paul Grenngrass fervoroso junto com um Tom Hanks surpreendente. E "O Lobo de Wall Street" é um Martin Scorsese voltando ao estilo que o consagrou apresentando uma história ágil e envolvente onde as quase três horas passam completamente despercebidas. 

MELHOR ATOR


Minha Aposta: MATTHEW McCONAUGHEY. O ator é o franco favorito, ganhou todos os prêmios de direito até agora e caminha com força total para recebeu o seu primeiro Oscar. A atuação de McConeughey é realmente competente, o ator depois de "O Poder e a Lei" renasceu largando as comédias romântica fajutas e embarcando em projetos que fazem jus ao seu talento. 

Quem eu quero que ganhe: LEONARDO DiCAPRIO. Apesar de gostar da atuação de McConaughey em "Clube de Compras Dallas", DiCaprio já merece a muitos anos, e sua atuação em "O Lobo de Wall Street" é algo completamente diferente de tudo que o ator já fez. Insano, elétrico e arrasador, DiCaprio é um furacão em cena e minha torcida é para ele. 

MELHOR ATRIZ


Minha aposta: CATE BLANCHETT. "Blue Jasmine" não é o melhor de Woody Allen, mas Cate Blanchett consegue se sobressair e ser O filme. Merece!

Quem eu quero que ganhe: CATE BLANCHETT. SEM DÚVIDA! Se não fosse, seria Meryl Streep que está um estrondo em "Álbum de Família". Mas este ano é o ano da Cate!

MELHOR ATOR COADJUVANTE


Minha aposta: JARED LETO. Outro franco favorito ganhador já de vários prêmios pelo filme, Leto emagreceu muito para o papel e se depilou completamente para encarnar um travesti com HIV em "Clube de Compras Dallas". Sua atuação é intensa e entre os indicados é uma das mais fortes de fato. 

Quem eu quero que ganhe: MICHAEL FASSBENDER ou BARKHAD ABDI. Leto está excelente em "Clube de Compras Dallas", porém, pessoalmente, minhas atuações favoritas nesta categoria são as de Fassbender em "12 Anos de Escravidão", que está assustador, e Abdi em "Capitão Phillips", que conseguiu criar um vilão sem caricaturas e ameaçador. O mais impressionante é que Abdi nunca havia atuado antes. Trabalhava como motorista de limousine em Los Angeles, fez o teste para "Capitão Phillips", foi chamado e chegou onde chegou. Já Bradley Cooper nem deveria estar concorrendo, sua atuação é tão normal em "Trapaça". Jonah Hill foi uma grata surpresa.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE


Minha aposta: LUPITA NYONG´O. Lupita em "12 Anos de Escravidão" é sublime e emocionante. É a melhor entre as indicadas.

Quem eu quero que ganhe: LUPITA NYONG´O ou JULIA ROBERTS. A categoria de atriz coadjuvante este ano está fraquíssima. Entre as indicadas Lupita e Julia são as melhores. Julia Roberts surpreende em "Álbum de Família", numa atuação madura, sem exageros e num tom bem diferente do habitual da atriz. Se não tivesse Lupita, seria Julia Roberts no pensamento.

MELHOR DIRETOR


Minha aposta: ALFONSO CUARÓN. Cuarón não apenas revoluciona a tecnologia em "Gravidade", como a usa em favor da história, que é simples, mas claustrofobia e angustiante. E nunca o espaço esteve tão belo e foi um personagem tão importante no cinema. 

Quem eu quero que ganhe: McQUEEN, CUARÓN ou SCORSESE. Fora David O. Russell, que tirou a vaga de Paul Greengrass por "Capitão Phillips", os outros quatro diretores estão excelentes em seus respectivos filmes. Mas, se fosse para escolher... daria o prêmio para Scorsese.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL


Minha aposta: ELA. Se tem um filme que é de fato original nessa categoria é "Ela". 

Quem eu quero que vença: ELA.

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO


Minha aposta: 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO. Categoria difícil, cinco roteiros ótimos e muito bem estruturados, mas fico com o roteiro de "12 anos...".

Quem eu quero que vença: 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO ou O LOBO DE WALL STREET ou CAPITÃO PHILLIPS. Amo "Antes da Meia Noite" e toda a trilogia do Richard Linklater, mas esses três são meus favoritos. 

MELHOR FILME ANIMADO


Minha aposta: FROZEN. O mundo está com "Frozen" na cabeça. Quase 1 bilhão em bilheteria, a animação marca a volta da Disney à ala vip das animações. Não tem outra, é "Frozen" e ponto final!

Quem eu quero que ganhe: FROZEN. Confesso que ainda não assisti "Vidas ao Vento" do Miyazaki, que é um gênio, mas dos indicados, "Frozen" merece por se mostrar algo muito mais profundo do que aparenta. Mas "Ernest e Celéstine" é uma obra de arte. E fiquei feliz com a indicação de "Os Croods" que gosto muito. Agora, "Meu Malvado Favorito 2"? Tudo bem que é muitíssimo engraçado e um ótimo programa para a família, mas ser indicado? Exagero!

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL


Minha aposta: LET IT GO. O mundo está tomado por "Frozen"! Você busca no Youtube e verá inúmeras versões, amadoras ou não, da música "Let It Go" em vários países. É o maior hit da Disney desde "You´ll Be In My Heart" do "Tarzan". A grande concorrente é "Ordinary Love" do U2 feita para o filme "Mandela: A Long Way To Freedom", que é muito boa também, aliás, todas as músicas concorrendo são ótimas, mas "Let It Go" têm tido uma campanha forte e merece!

Quem eu quero que ganhe: LET IT GO. Faço o desafio: SE "LET IT GO" NÃO GANHAR, RASPO MINHA CABEÇA, COM MÁQUINA E GILETE, E POSTO A FOTO AQUI NO BLOG! É "LET IT GO" MAN! ESTÁ FEITO!

ASSISTA O OSCAR 2014 NA TNT NESTE DOMINGO À PARTIR DAS 22h

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

NoCinema: PHILOMENA

Philomena-INGLATERRA
Ano: 2013 - Dirigido por: Stephen Frears
Elenco: Steve Coogan, Judi Dench, Sophie Kennedy Clark

NOTA: «««««

Sinopse: Irlanda, 1952. Philomena Lee (Judi Dench) é uma jovem que tem um filho recém-nascido quando é mandada para um convento. Sem poder levar a criança, ela o dá para adoção. A criança é adotada por um casal americano e some no mundo. Após sair do convento, Philomena começa uma busca pelo seu filho, junto com a ajuda de Martin Sixsmith (Steve Coogan), um jornalista de temperamento forte. Ao viajar para os Estados Unidos, eles descobrem informações incríveis sobre a vida do filho de Philomena e criam um intenso laço de afetividade entre os dois.


Ainda que o cinema norte-americano viva em constante sintonia com o cinema inglês ambos são dois universos completamente diferentes. Enquanto um gosta do espetáculo e muitas vezes de abusar dos artifícios narrativos, o outro já segue uma linha mais contida, equilibrada, e até quando decidem criticar, ou satirizar ou transmitir uma história extremamente chocante, os britânicos continuam maneirados e nunca passam do ponto. Essa característica, tão comum dos ingleses, se encaixa perfeitamente na história deste “Philomena”, uma trama baseada em fatos reais que tinha tudo para cair no tom novelesco e ser mais do mesmo. 


Não que eu não goste do melodrama, porque há casos que o estilo é bem transmitido e origina filmes eficientes, cito como exemplo o ótimo “O Impossível” com a Naomi Watts. Mas neste “Philomena”, o roteiro de Steve Coogan (também protagonista do filme) e Jeff Pope flui sem apelar para reviravoltas surpreendentes ou cenas de alta dramaticidade. Apesar de tê-las, Coogan e Pope injetam aquele humor inglês ácido e direto, mas sempre sutil e nada para chamar a atenção. Uma qualidade, aliás, que tornam ainda mais críveis e humanas os momentos de descobertas e, digamos, mais dramáticos da história. 

“Philomena” explora muito mais do que meramente a busca de uma mãe pelo filho que não vê há cinqüenta anos. A relação entre Max Sixsmith (Steve Coogan) e Philomena (Judi Dench) é outro ponto forte da obra. Sixsmith é um jornalista cético, estudioso das guerras russas e um ávido entendedor da política. Não acredita em Deus e raramente consegue ser um cavalheiro com as pessoas ao seu redor. Essa característica bate de frente com a pessoa simples, religiosa e faladeira de Philomena, uma mulher que apesar das qualidades, sofre por não ver o filho e guarda esse sentimento já por anos. Até quando conhece Sixsmith e ambos decidem procurá-lo. 


O genial no relacionamento desses dois personagens é que não temos aqui aquela jornada de mudança de caráter, com cenas dos personagens se arrependendo do que fizeram e etc. Nada disso! Tanto Max Sixsmith quanto Philomena continuam os mesmos do inicio ao fim, apresentam suas opiniões, debatem elas e seguem a vida. 

Dirigido por Stephen Frears, um diretor que desde o excelente “A Rainha” não mostrava nada digno de nota, lançando filmes sofríveis como “Cheri” e “O Dobro ou Nada”, Frears encontra aquele equilibro de “A Rainha”, explorando com profundidade os seus personagens e contanto de maneira eficiente e envolvente suas histórias. 


Belo, tocante e delicadamente divertido, “Philomena” é uma obra impossível de não se amar. Com atores magníficos como Steve Coogan e principalmente Judi Dench, o filme merece ser visto! Vale a pena!

Comentário por Matheus C. Vilela

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

NoCinema: ROBOCOP

Robocop-EUA
Ano: 2014 - Dirigido por: José Padilha
Elenco: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton

NOTA: «««««

Sinopse: 2028. Já há vários anos os drones têm sido usados para fins militares mundo afora e agora a empresa OmniCorp deseja que eles sejam usados também para o combate ao crime nas grandes cidades. Entretanto, esta iniciativa tem recebido forte resistência nos Estados Unidos. Na intenção de conquistar o povo americano, Raymond Sellars tem a ideia de criar um robô que tenha consciência humana, de forma a aproximá-lo à população. A oportunidade surge quando o policial Alex Murphy sofre um atentado, que o coloca entre a vida e a morte.


É natural, principalmente por se tratar de um clássico, que as pessoas ao assistirem este novo “Robocop” o comparem com o icônico filme de 1987 dirigido por Paul Verhoeven. Inicialmente o temor é grande e a expectativa não tão animadora, ainda mais com uma indústria que já provou inúmeras vezes falhar nos reboots para os dias de hoje de filmes clássicos do cinema. “O Vingador do Futuro” e “Fúria de Titãs” são apenas dois exemplos que não me deixa mentir.

No entanto, sou contra aquela ideia de ao fazer um reboot manter todos os elementos que fizeram do antigo algo memorável. O respeito com a obra original deve existir, e principalmente com os conceitos abordados pela história, mas não necessariamente deve-se fazer um filme igual, e sim, buscar os seus próprios elementos originais. Por isso, comparar o novo “Robocop” com o de Verhoeven é pedir para não gostar mesmo.


Apesar de manter o mesmo conceito base, do policial que se transforma numa máquina de combate contra o crime em Detroit, e que posteriormente se voltará contra os seus criadores, tanto o antigo quanto o novo são filmes completamente diferentes nos rumos que decidem seguir na história. A realidade é outra e a nova versão dirigida pelo brasileiro José Padilha aproveita o cenário atual, principalmente os recentes ataques com drones ministrados pelos EUA em países como Paquistão e Afeganistão para gerar uma discussão sobre o essencial uso da tecnologia, até onde a mídia se encaixa como formadora de opinião e como o governo se porta diante de tais fatos.

Ter um diretor não norte-americano no comando dessas questões abre um leque maior para se ter uma visão abrangente e não patriótica do assunto. Padilha, que ganhou notoriedade mundial com os dois “Tropa de Elite”, possui o cenário perfeito para expor sua visão do narcisismo norte americano. Se com “Tropa de Elite”, Padilha não polpa críticas ao Brasil e seu governo, em “Robocop” o diretor abre vários assuntos e não receia em criticar a política imperialista norte-americana, que invade países buscando o “pacifismo”, porém, o fazem utilizando-se de poder bélico e atitudes extremas.


Daí surge um dos mais importantes e interessantes personagens do filme: Pat Novak (Samuel L. Jackson) como o apresentador de um programa sensacionalista chamado “The Novak Element”. Novak é a favor do uso de drones em solo norte-americano, no filme, único local do planeta que não utiliza robôs como força de pacificação. Constantemente Novak crítica a postura do governo por manter uma lei que proibi o uso de máquinas alegando que elas não conseguem entender as emoções humanas. Entretanto, o mesmo governo que proibi essas máquinas em solo norte-americano, é o mesmo que as utiliza em países do oriente médio sob o discurso de “pacificação” e “melhorias na sociedade”. O que também faz entrar na conversa a mídia como ferramenta de convencimento, como é mostrado na sequência de abertura do filme com os robôs em missão de "paz" no Teerã e a imprensa só mostrando um dos lados.

Deixando de escanteio o ótimo material apresentado por Padilha e o roteirista Joshua Zetumer em um filme cuja história poderia ter caído na ação gratuita e fantasia barata, este novo “Robocop”, em relação ao personagem e às adaptações feitas do original, é um filme que possui qualidades louváveis mas também problemas que incomodam.


Antes de tudo vamos aos pontos positivos. Diferente do antigo, onde o Robocop perdia a memória e a recuperava com o desenrolar da história, no filme de Padilha desde o início ele já sabe quem é, porém, com a Omnicorp buscando criar um policial robô eficiente que agrade o público e eleve as ações da companhia lá em cima, é decidido apagar a memória do personagem e tirar suas emoções. Isso surge como uma atitude impactante, que justifica todo o desencadeamento posterior ao fato.

Como no antigo, Padilha não mostra como foi criado o Robocop e toda sua estrutura. Após o acidente, já vemos Alex Murphy transformado em máquina pronto para uso. Uma das preocupações do público era com a aparência pouco parecida com a de um robô, e a enorme rejeição por não possuir o visual clássico da personagem. A questão é: Padilha respeita o clássico de 1987 e começa o filme mostrando um robô prata que lembra muito o antigo. Depois, o visual muda para preto, por exigências de mercado feitas pela Omnicorp, e os instantes finais é a prova concreta do respeito e carinho dos realizadores pela obra de Verhoeven. E Padilha acertou em cheio ao decidir mostrar a real natureza do policial Alex Murphy após o acidente. Numa cena chocante e memorável, Murphy é desmontado e sentimos sua difícil realidade, o que é bom porque possibilita uma identificação melhor com o novo Robocop.


As cenas de ação é outra qualidade inegável do filme. Padilha já conseguia criar momentos extasiantes nos dois “Tropa de Elite”, principalmente no segundo, e agora com um orçamento de 130 milhões de dólares, o diretor cria sequencias empolgantes, opta por usar mais efeitos práticos e menos efeitos digitais, e ainda quando usa, sabe utilizar sem exageros e nos momentos certos.

Joel Kinnaman, intérprete do Robocop, é pouquíssimo conhecido pelo público e isso ajuda muito pois conseguimos enxergar a personagem além do ator. Não existe ali o peso da fama, o que em muitos casos pode prejudicar. E Kinnaman faz um ótimo trabalho, balanceando bem a figura robótica dos momentos humanos de Alex Murphy.



O elenco de apoio talvez seja o grande chamariz do filme. Se Kinnaman não é tão conhecido, nos coadjuvantes temos o excelente Gary Oldman como o Dr. Dennett Norton, cientista criador do Robocop. O também excelente Michael Keaton como o CEO da OmniCorp Raymond Sellers. Jackie Earle Harley e Abbie Cornish são outros bons destaques e, por último, Samuel L. Jackson encarnando de forma brilhante o já citado Patrick “Pat” Novak, apresentador do programa “The Novak Element”.

Mas dentre tantas qualidades, surpreendentes por assim dizer, em “Robocop” há certos problemas que incomodam. O primeiro deles é justamente a falta de um vilão definido. No início do filme o roteiro aborda o uso dos robôs ED-290 como ferramenta contra o crime, e só volta na questão nos instantes finais do filme, e numa cena de ação apenas. A discussão em torno do assunto é posta de lado e mal é lembrada. Assim acontece com Antoine Vallon (Patrick Garrow), mandante do atentado ao policial Murphy, e também com o próprio Raymond Sellers (Michael Keaton). O filme em nenhum momento consegue criar uma figura ameaçadora, e nem a mudança de atitude de Sellers no final convence. Keaton injeta tanta simpatia ao personagem, que suas ações soam apenas como atitudes normais vindas de um empresário interesseiro. Em nenhum momento Keaton é mostrado como alguém mal e imprevisível. Apenas um vendedor querendo fazer dinheiro. Por isso, a insossa resolução do seu personagem nada impressiona.


Outro ponto incômodo no longa é a família do policial Alex Murphy. Não que a presença da esposa e o filho seja desnecessária, porque não é. Muito mais explorado que no antigo, a relação de Murphy com sua família é até inspiradora, mas acaba prejudicada pela necessidade de usá-los apenas como ferramentas dramáticas em momentos oportunos, onde o personagem necessita de alguma motivação para superar o problema. Fora isso, nada de muito útil ou importante.

Dentre tantos filmes descartáveis que não trazem nenhuma discussão relevante para o público, é admirável ver que "Robocop" consegue ser muito mais do que propõe. Para o bem ou para o mal, bom ou ruim, no minimo, o filme têm conteúdo e traz algo para se pensar e debater. Parabéns para José Padilha neste seu primeiro trabalho fora, conseguindo manter sua ideias e não ficar submetido aos produtores. Vale a pena conferir!

Comentário por Matheus C. Vilela

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

NoCinema: CAÇADORES DE OBRAS PRIMAS

The Monuments Men-EUA
Ano: 2014 - Dirigido por: George Clooney
Elenco: George Clooney, Matt Damon, John Goodman

NOTA: «««««

Sinopse: Durante o declínio de Hitler na Alemanha, um grupo de 13 especialistas vindos de países diferentes é reunido para reencontrar obras de arte roubadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. George Stout (George Clooney), um oficial americano e conservador de obras de arte, lidera a equipe.


“Caçadores de Obras Primas” é o quinto filme dirigido por George Clooney e também o seu mais inferior trabalho. O longa relata um acontecimento pouco conhecido pelo público a respeito da Segundo Guerra Mundial: de que os nazistas roubavam obras de arte dos países invadidos na intenção de aniquilar a cultura daquele país. Ou destruíam queimando os quadros, livros, ou estocavam os artefatos em cavernas para, periodicamente, irem se desfazendo do material. 

Infelizmente, o resultado final apresentado por Clooney é um filme que se perde no ritmo e intenções, e deixa de aproveitar uma excelente história para se ater ao superficial. Adotando um ritmo leve, com trilha sonora que remete a John Williams e uma narrativa com narrações em off e acontecimentos paralelos, Clooney aposta no “filme B”, porém, desperdiça a oportunidade de criar uma aventura memorável. 


Os personagens são tão pouco explorados que se existir alguma identificação nossa com eles é unicamente por existir ali ótimos atores como John Goodman, Bill Murray, Matt Damon, Cate Blanchett ou o próprio Clooney, que também é o protagonista. Sendo um filme de time, no estilo “11 Homens e Um Segredos”, o elenco de “Caçadores de Obras Primas” é sem camadas ou nuances, e as qualidades apresentadas por Clooney no início do filme sobre cada um dos personagens recrutados para compor sua equipe de busca, nem são lembradas com o desenrolar da história. E quando algo de trágico acontece com algum deles, não sentimos absolutamente nada em relação ao personagem. O que só comprova que “Caçadores de Obras Primas” busca sustentar-se na fama dos seus atores. 

Outro ponto falho na obra é a enorme embromação existente na história. Perdendo tempo com momentos que se cortados não fariam falta, como quando os personagens de John Goodman e Juan Dujardin são atacados por tiros e descobrem que a causa de tudo é uma criança, Clooney constantemente foge da trama para criar alívios cômicos, o que só torna a experiência de assistir “Caçadores de Obras Primas” longa e cansativa. 


Uma peja já que nos instantes finais o filme ganha certo ritmo e Clooney mostra ter encontrado o timing certo na narrativa. Mas, ainda assim, é tarde demais. Arrastado, pouco envolvente e sem nenhum clímax eficiente capaz de elevar o nosso interesse para com a história, “Caçadores de Obras Primas” é um exemplar fraco e um desperdício de um fato história bastante curioso. 

Comentários por Matheus C. Vilela

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

NoCinema: ELA

Her-EUA
Ano: 2013 - Dirigido por: Spike Jonze
Elenco: Joaquin Phoenix, Scarlet Johansson, Amy Adams

NOTA: «««««

Sinospe: Theodore (Joaquin Phoenix) é um escritor solitário, que acaba de comprar um novo sistema operacional para seu computador. Para a sua surpresa, ele acaba se apaixonando pela voz deste programa informático, dando início a uma relação amorosa entre ambos. Esta história de amor incomum explora a relação entre o homem contemporâneo e a tecnologia.


Se engana quem acha que “Ela” é uma comédia romântica. Por favor não confie nas classificações dos cinemas e muito menos nas divisões do Globo de Ouro que de vez em quando coloca cada filme na categoria de Comédia/Musical que só confunde a cabeça de muitos. O novo filme de Spike Jonze é um drama extremamente melancólico que busca através de um conceito plausível, e não muito distante de acontecer, retratar uma sociedade cada vez mais vazia e distante no convívio interpessoal, chegando ao ponto de buscar na tecnologia o escape para as decepções que temos ao longo da vida. 

Na história, Theodore (Joaquin Phoenix) é um homem solitário que se separou da esposa há um ano, e ainda sofre os efeitos do rompimento levando a vida da maneira mais frívola e sem graça possível. Ele não consegue entender como uma pessoa que dizia o amar tanto e desejava tão fervorosamente sua presença, decidiu, certo dia, interromper tudo e seguir o seu caminho sozinha. Dentre vários encontros cujas intenções não passavam de mero prazer físico, Theodore encontra em Samantha a parceira ideal. Ela lhe entende, ouve, o deixa a vontade para falar sobre tudo e foi a única que despertou o seu interesse desde o rompimento do matrimônio. A questão é: Samantha não é uma pessoa, mas um Sistema Operacional. 


Só que Jonze trata a questão como algo natural. Estamos em um futuro onde a interação virtual é cada vez mais frequente, e um homem se relacionar com o seu computador é apenas um grão de areia na praia. Algo normal. E através desse conceito, o diretor retrata como o convívio entre as pessoas tem se tornado algo a cada dia banal e sem importância. É o desespero da garota em não querer ser esquecida após o primeiro encontro. É o sexo virtual forçado e súbito. São as pessoas na rua conversando com os seus aparelhos eletrônicos e cada vez mais fechadas dentro do seu próprio universo. Pequenos detalhes que exemplificam nosso mundo moderno de hoje. 

Outra grande sacada do roteiro, também escrito por Skipe Jonze, é não colocar Samantha como um sistema operacional mecânico e engessado. Ela conversa, se interage, ama, tem ciúmes, medos e complexos como qualquer outro ser humano possui. E chega aquele momento que sua relação com Theodore começa a sofrer com o tempo. A medida que vai se expandindo, o mundo de Samantha entra em contraste com o mundo real de Theodore, e no fim, a mensagem que Jonze quer passar é simplesmente esta: o problema está em nós! Não é um outro alguém ou uma máquina que vai resolver nossos problemas, mas nossa atitude em mudar, amadurecer e saber resolver as adversidades, e não jogá-las para debaixo do tapete. 


Como sempre, Joaquin Phoenix nos apresenta uma atuação marcante, movida por sutis expressões que falam tudo sobre o seu personagem. É uma piscada tímida, um sorriso de lado, um ajeitar do óculos, um andar encurvado e outras nuances que falam mais do que palavras. E se a relação de Phoenix com a personagem de Amy Adams é curiosa, aparentando claramente existir ali algo muito maior do que uma amizade, a química de Theodore com Samantha (voz de Scarlett Johansson) é perfeita e um dos grandes trunfos do filme. 

Ela” é uma das obras mais originais produzidas por Hollywood nesses últimos quatorze anos, e acredito que será por muitos outros. Diferente, profundo, melancólico mas muito verdadeiro, “Ela” é um retrato inesquecível do nosso mundo contemporâneo e das relações entre nós seres humanos. Vale a pena!

Comentário por Matheus C. Vilela

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

NoCinema: TRAPAÇA

American Hustle-EUA
Ano: 2013 - Dirigido: David O. Russell
Elenco: Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper

NOTA: «««««

Sinopse: Irving Rosenfeld (Christian Bale) é um grande trapaceiro, que trabalha junto da sócia e amante Sydney Prosser (Amy Adams). Os dois são forçados a colaborar com um agente do FBI (Bradley Cooper), infiltrando o perigoso e sedutor mundo da máfia. Ao mesmo tempo, o trio se envolve na política do país, através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Jennifer Lawrence), aparecer e mudar as regras do jogo.


David O. Russell após muitas controvérsias e dizeres sobre sua personalidade difícil no inicio do século, o diretor encontrou sua redenção em 2010 quando lançou o excelente e premiado “O Vencedor” com Christian Bale e Mark Wahlberg e depois disso se tornou um dos nomes mais requisitados em Hollywood, e um profissional almejado por qualquer ator. Em 2012 veio com o sucesso “O Lado Bom da Vida”, também muito premiado, e neste ano lança este “Trapaça”, ganhador de vários prêmios e indicado a 10 Oscar este ano. Resta esperar pelo dia 02 de março para saber quantas estatuetas irá levar. 

Confesso que gosto dos filmes de Russell. É um diretor que sabe como contar uma história e é notável sua habilidade para dirigir atores. Tanto que em seus filmes são sempre indicados e quase sempre ganham. 


Neste “Trapaça” David O. Russell nitidamente busca inspiração no cinema de Martin Scorsese, partindo das narrações em off, câmeras lentas em momentos cruciais e músicas no estilo rock clássico, jazz ou blues que completam a construção do momento. Se inspirar em alguém excelente não é algo ruim, e não acho que Russell faz uma cópia, mas se utiliza de um estilo muito bom e aproveita para extrair atuações competentes de seus atores e construir um filme que cumpre bem sua proposta. 

Agora, nitidamente falta em Russell aquele vigor e entusiasmo de Scorsese. “Trapaça” há momentos que se arrasta e existe algumas reviravoltas pouco surpreendentes justamente por ter ali um vácuo na construção da relação entre os personagens. Mas não compromete a eficiência de um filme que sabe onde quer chegar, cujos atores seguram boa parte dessa qualidade e, claro, a direção de Russell também merece destaque, apesar de não considerá-la digna de estar entre as cinco melhores do ano. Entretanto, “Trapaça” é um filme que merece ser visto.

Comentário por Matheus C. Vilela

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

NoCinema: OPERAÇÃO SOMBRA - JACK RYAN

Jack Ryan: Shadow Recruit
Ano: 2014 - Dirigido por: Kenneth Branagh
Elenco: Chris Pine, Keira Knightley, Kevin Costner

NOTA: «««««

Sinopse: Jack Ryan (Chris Pine) estudava em Londres quando o World Trade Center desabou devido a um ataque terrorista ocorrido em 11 de setembro de 2001. Servindo o exército amercano, ele participa da Guerra do Afeganistão e lá sofre um sério acidente na coluna. Durante a recuperação no hospital ele conhece a doutora Cathy (Keira Knightley), por quem se apaixona. É neste período que ele recebe a visita de Thomas Harper (Kevin Cosnter), que trabalha para a CIA e recomenda que Ryan retorne ao doutorado em economia. Ele segue o conselho e, a partir de então, passa a trabalhar às escondidas para a CIA, sem que nem mesmo Cathy saiba. Em meio às investigações, Jack descobre um complô orquestrado na Rússia, que pode instalar o caos financeiro nos Estados Unidos. Com isso, ele viaja a Moscou com o objetivo de investigar Viktor Cheverin (Kenneth Branagh), o líder da operação.


“Operação Sombra – Jack Ryan” já é o quinto filme estrelado por Jack Ryan, personagem dos livros escritos pelo norte-americano Tom Clancy e que nos cinemas já foi interpretado por Alec Baldwin em “Caçada Ao Outubro Vermelho” (1989), Harrison Ford em “Jogos Patrióticos” (1992) e “Perigo Real e Imediato" (1994) e Ben Affleck em 2002 com “A Soma de Todos os Medos”. Mas o personagem nunca conseguiu se destacar a ponto de criar uma franquia que levasse o seu nome, como James Bond por exemplo. Por isso que agora a estratégia foi colocar o nome Jack Ryan no título e tentar emplacar uma nova franquia de ação e espionagem em Hollywood. 

Estrelado por Chris Pine (Star Trek), o novo filme de Jack Ryan se diferencia dos anteriores por apostar numa pegada mais ágil, cheio de ação e colocando o protagonista como centro da salvação dos Estados Unidos. Aliás, “Operação Sombra” não esconde o DNA norte-americano e busca nas questões políticas, partindo do 11 de Setembro e culminando no embate com a Rússia (pra variar!), que está com planos de explodir um dos prédios de Wall Street, para gerar todo o suspense e cenas de ação com Jack Ryan lutando corpo a corpo com os vilões.


Se por um lado a ideia de revitalizar o personagem é boa, trazendo ele para os dias atuais onde quanto mais ação e efeitos mais chamativo fica, o roteiro de Adam Cozad e David Koepp erra ao criar uma insossa e pouco empolgante história. Genérico do início ao fim, “Operação Sombra” é uma sucessão de clichês terríveis que tornam-se cada vez mais evidentes ao longo do filme, e por fim, as cenas de ação são de mesmo modo previsíveis e pouco inspiradas, e como se não bastasse, atores carismáticos e talentosos como Chris Pine e Keira Knightley acabam que rendendo uma péssima química. 

Dirigido por Kenneth Branagh, que também faz o grande vilão russo do filme, “Operação Sombra – Jack Ryan” é uma experiência sem nenhum atrativo ou cenas de ação boas. Diferente de franquias como 007 ou Missão Impossível, que sabem a cada filme criar momentos originais e memoráveis, este novo filme de Jack Ryan pouco empolga e está longe de ter o cacique para se tornar uma nova franquia de ação.

Comentário por Matheus C. Vilela

sábado, 8 de fevereiro de 2014

NoCinema: UMA AVENTURA LEGO

Lego Movie-EUA
Ano: 2014 - Dirigido por: Phil Lord e Christopher Miller
Elenco: Will Arnett, Elizabeth Banks, Will Ferrell

NOTA: «««««

Sinopse: Emmet é um Lego comum, até o dia em que é confundido com o Master Builder, o grande criador deste mundo de brinquedo. Cabe a ele a tarefa de derrotar um perigoso vilão que pretende colar todas as peças. Mas sem poderes de verdade, ele precisará da ajuda de alguns heróis de verdade, como Batman e o Super-Homem.


Em mais de 140 países atualmente, a companhia LEGO detêm a dianteira como a maior empresa de brinquedos no mundo. A empresa encontrou o pote de ouro ao se juntar com a Warner Bros no mercado de games e lançar as versões de Batman, O Senhor dos Anéis e tantos outros títulos no formato lego, o que, naturalmente, possibilitou aumentar o leque para outras parcerias com outros estúdios e expandir a franquia “Lego” dos jogos de vídeo games. 

A Warner não perdeu tempo e o departamento de animações da empresa já começou a desenvolver o longa animado do formato. O anúncio das primeiras fotos e trailers já despertou meu interesse para aquela que poderia ser uma das animações mais originais desse início de século. E de fato é! 


Apostando na sátira com o universo pop, o acerto de “Uma Aventura Lego” não se encontra apenas no excelente visual e na originalidade dos mundos em lego criados pelos animadores. Mas em investir num ritmo sempre frenético criando um filme nunca parado ou cansativo, e pegar elementos característicos de determinados personagens e parodiar aquilo. A natureza seca e insensível do Batman, o embate entre Gandalf e Dumbledore, o machismo de Han Solo e outras inúmeras brincadeiras sutis e rápidas que fazem de “Uma Aventura Lego” uma espécie de “Shrek” do mundo pop. 

O roteiro escrito por Phil Lord, Christopher Miller (estes dois também diretores do longa) e os irmãos Kevin Hageman e Dan Hageman se mostra extremamente inteligente. Inicialmente, a história aposta na base clichê dos filmes de heróis, o vilão querendo destruir o mundo, uma profecia que revela um escolhido que impedirá a destruição final e todo o resto que já estamos cansados de ver no cinema de Hollywood, entretanto, isso é apenas base para duas intenções certeiras da história. Primeiro: criticar o domínio dos governantes e dos poderosos sobre as pessoas de classe inferior, e como nós somos frequentemente influenciados pelos grandes meios dentro de uma sociedade consumista e movida pela aceitação daquilo que é imposto. E também, como muitas pessoas se tornam alienadas pela mídia a viverem segundo suas regras e padrões de vida. 


Outra ideia extremamente eficiente do roteiro é justamente o surpreendente final. A resolução se dá através de uma justificava genial onde tudo aquilo que vivenciamos até aquele momento não passava de... Deixa pra lá, não quero estragar a surpresa. Mas saiba que tal ocorrido complementa ainda mais nossa identificação com o protagonista e principalmente com o vilão do filme, dublado originalmente por Will Farrell. 

Um deleite para nós nerds, uma diversão garantida para a criançada e um filme que é muito mais do que meramente um exemplar sátiro do que consumimos atualmente. Com ritmo adequado, personagens carismáticos e uma história divertida e inteligente, “Uma Aventura Lego” é imperdível e precisa ser visto. Vale a pena!

Comentário por Matheus C. Vilela

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

NoCinema: WALT NOS BASTIDORES DE MARY POPPINS

Saving Mr. Banks-EUA
Ano: 2013 - Dirigido por: John Lee Hancock
Elenco: Emma Thompson, Tom Hanks, Paul Giamatti

NOTA: «««««

Sinopse: Walt nos Bastidores de Mary Poppins (Saving Mr. Banks) é um filme baseado em fatos reais, que mostra como foi a produção do clássico Mary Poppins (1964). A trama acompanha como foi a batalha entre Walt Disney (Tom Hanks) e a escritora australiana Pamela Lyndon Travers (Emma Thompson), que durou 14 anos, onde Walt tentou de todas as maneiras persuadir a famosa escritora a vender os direitos da adaptação para os cinemas de Mary Poppins, que teve oito livros publicados. Depois de muito tentar, Walt conseguiu os direitos para a adaptação, mas Travers odiou o resultado final do filme e proibiu Walt a fazer qualquer tipo de sequências.


Mary Poppins”, lançado em 1964, foi um dos maiores sucessos da Disney naquele ano, ganhou cinco Oscars, incluindo Melhor Atriz para Julie Andrews, e foi um marco na trajetória do estúdio. Atualmente se encontra meio esquecida e não é lembrada por muitos, e nada melhor que um filme como “Walt Nos Bastidores de Mary Poppins” para nos fazer recordar a inspiradora história da babá que voa com um guarda chuva, e, principalmente, das icônicas canções do filme. 

A obra relata a árdua trajetória de Walt Disney em conseguir a aprovação de Pamela Lyndon Travers, ou P.L. Travers, para adaptar o seu livro “Mary Poppins” para o cinema. A autora era constantemente crítica com a maneira fantasiosa com que Walt mostrava o mundo para as crianças, e mantinha o pulso de ferro em não concordar com suas inclinações em transformar sua história numa peça musical colorida característica do estúdio. 


Produzido pela própria Disney, meu medo era que “Walt Nos Bastidores de Mary Poppins” caísse no pecado de retratar tais negociações puxando sempre para o lado da empresa deixando de mostrar o lado empreendedor do grande Walt Disney. Obviamente que existe toda a dramatização da história, com os picos de emoção no intuito de tocar no coração do público, mas, de maneira sutil, afinal, é um filme para a família, o longa nos apresenta uma protagonista ranzinza, solitária, magoada e pouco realizada na vida mas nunca soa repugnante para o público. E um Walt Disney encarnando por Tom Hanks com carisma, mas sem deixar de ter suas decisões mercadológicas, como o momento em que Disney decide não convidar P. L Travers para a pré estreia de “Mary Poppins” na intenção de preservar a imagem do filme. 

Só que o roteiro escrito por Kelly Marcel e Sue Smith deixam as negociações em segundo plano e adentram na vida da protagonista. Walt Disney é mero coadjuvante e aparece pouco. Mas é a vida de P. L Travers que interessa as roteiristas. Escrito por duas mulheres, vamos ter aquela redenção feminina e o percurso de amadurecimento da personagem com o decorrer da história. Marcel e Smith intercalam o presente com o passado da autora, mostrando quais foram suas inspirações para escrever Mary Poppins. Com isso, nos identificamos cada vez mais com sua pessoa e em querer entender o porquê de ter se tornado uma mulher tão amargurada. E claro, torcemos também por sua mudança. 


John Lee Hancock (de “Um Sonho Possível”) dirige o filme com uma sutileza latente. Sem ovacionar Walt Disney, e sem criar uma emoção barata e cartunesca, “Walt Nos Bastidores de Mary Poppins” é o seu melhor trabalho até aqui. Hancock equilibra o drama, o humor e mistura ambos de um jeito tão envolvente e belo que entramos no clima e vivenciamos cada minuto ali apresentado. 

Apesar de Tom Hanks estar carismático na pele de Walt Disney, é Emma Thompson a melhor performance do filme. A atriz encarna uma personagem com temperamento irritante e cheio de manias, e isso, inicialmente, a torna antipática para nós, no entanto, com o decorrer do filme ela vai se mostrando uma pessoa doce e carismática, e grande parte do mérito deve-se a Thompson, que brilha com toda sua simpatia e carisma. 


Surpreendente, emocionante, com uma ótima trilha sonora, direção de arte e atuações, “Walt Nos Bastidores de Mary Poppins” não só traz de volta a beleza do clássico filme de 1964, como também o torna ainda mais completo ao mostrar os bastidores de como ele foi concebido. Ótimo filme!

Comentário por Matheus C. Vilela

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

TRINCA: "Liga da Justiça: Ponto de Ignição", "Um Alguém Apaixonado" e "Um Monstro em Paris"

LIGA DA JUSTIÇA: PONTO DE IGNIÇÃO
(Justice League: The Flahpoint Paradox-EUA)
Ano: 2013 - Dirigido por: Jay Oliva

NOTA: «««««


Viagens no tempo, mundo paralelo, realidade alternativa e outros nomes nunca foi novidade no universo dos quadrinhos. A minissérie “Ponto de Ignição”, composta por cinco edições e roteirizada por Geoff Johns, traz novamente esse conceito para uma história da DC compondo a sinfonia final antes do reboot sofrido pelo universo DC Comics com os “Novos 52”. 

“Ponto de Ignição” não é um dos trabalhos mais originais ou surpreendentes de Johns e da própria DC, mas adaptar a minissérie para um filme animado de uma hora e meia, com tantos detalhes e reviravoltas, é um trabalho complicado. Felizmente, Jay Oliva, um dos principais nomes hoje no departamento de animações Warner/DC (tendo dirigido vários títulos entre eles os ótimos “Batman – O Cavaleiro das Trevas Parte 1 e Parte 2”, “Lanterna Verde: Cavaleiros Esmeralda” e “Liga da Justiça: Guerra”, este último sendo o próximo lançamento do estúdio) consegue criar uma animação ágil, competente na sua narrativa e que desperta o interesse do público a partir de sua história. 

O filme condensa bem as complexidades da HQ dentro do limite do seu tempo, assim como também os deslizes da mesma, com vários momentos mal explicados para o público gerando alguns porquês ao longo do filme. Entretanto, “Liga da Justiça: Ponto de Ignição” acerta no ritmo, sempre frenético, incessante e empolgante. As seqüências de ação estão de parabéns e a animação possui ótimos contornos e um visual dos heróis bem traçados. Vale a pena conferir!

UM ALGUÉM APAIXONADO
(Like Someone In Love-JAPÃO, FRANÇA)
Ano: 2013 - Dirigido por: Abbas Kiarostami
Elenco: Tadashi Okuno, , Ryo Kase, Rin Takanashi

NOTA: «««««



Abbas Kiasrostami é um diretor fenomenal, sempre surpreendendo com filmes que instigam o público. Em suas histórias trabalha com personagens conflituosos e subverte a situação criando uma trama intrigante onde nos faz se interessar mais e mais pela situação dos mesmos. 

Infelizmente é com dolo que digo o quão desapontado fiquei com este “Um Alguém Apaixonado”. Brincando de certa maneira com a verdadeira identidade dos personagens, algo que fez com maestria no ótimo “Cópia Fiel”, Kiarostami erra por estagnar em um mesmo lugar e nunca levar adiante a história. Deixa o público sem respostas e perdido sem um final. 

A lentidão nunca foi um problema nos filmes do diretor, pois tudo era compensado por uma excelente história, já aqui, é possível sentir o ritmo arrastado ao longo das duas horas, fazendo deste “Um Alguém Apaixonado”, possivelmente, o mais fraco filme de Kiarostami. Infelizmente.

UM MONSTRO EM PARIS
(Un Monstre à Paris-FRANÇA)
Ano: 2013 - Dirigido por: Bibo Bergeron
Elenco: Vanessa Paradis, Bruno Salomone, Mathieu Chedid

NOTA: «««««



Animação francesa que, confesso, me surpreendeu. Bem realizada, com ritmo envolvente movido por alguns números musicais na língua original, “Um Monstro em Paris” é uma homenagem aos grandes romances conflituosos da literatura e do cinema, principalmente ao clássico “O Fantasma da Ópera”. 

Um filme belo e delicado que merece nossa atenção. Não é nada surpreendente ou novo, mas é uma experiência gratificante, principalmente quando ouvimos a belíssima voz da cantora/atriz Vanessa Paradis, que dubla a personagem Lucille. Vale a pena!

Comentários por Matheus C. Vilela