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sexta-feira, 30 de maio de 2014

NoCinema: MALÉVOLA

Maleficent/EUA
Ano: 2014 - Dirigido por: Robert Stromberg
Elenco: Angelina Jolie, Elle Fanning, Sharlto Copley

NOTA: «««««

Sinopse: Baseado no conto da Bela Adormecida, o filme conta a história de Malévola (Angelina Jolie), a protetora do reino dos Moors. Desde pequena, esta garota com chifres e asas mantém a paz entre dois reinos diferentes, até se apaixonar pelo garoto Stefan. Os dois iniciam um romance, mas Stefan tem a ambição de se tornar líder do reino vizinho, e abandona Malévola para conquistar seus planos. A garota torna-se uma mulher vingativa e amarga, que decide amaldiçoar a filha recém-nascida de Stefan, Aurora. Aos poucos, no entanto, Malévola começa a desenvolver sentimentos de amizade em relação à jovem e pura Aurora.


Estamos vivendo tempos onde a necessidade de algo novo no cinema é latente. Mas ao mesmo tempo entramos num paradoxo já que, esta mesma arte vem sofrendo um forte desgaste de criatividade apostando cada vez mais em remakes e reboots de filmes já existentes. Uma das principais sensações nos últimos anos está sendo adaptar os principais contos de fadas segundo, claro, os padrões da nova geração. Particularmente considero a ideia excelente. Passamos tantos anos sobre a sombra de uma única versão, aquele tom clássico e poético dos filmes da Disney de décadas atrás, que buscar novos ares e novas ideias dentro dessa mesma história é algo sempre bem-vindo e gratificante. Não necessariamente o motivo para filmes bons, mas a intenção, em si, é bastante válida. 

No caso deste “Malévola” a Disney busca seguir um caminho diferente. O foco central não é a princesa e muito menos sua história de amor verdadeiro e descobertas. Aqui o centro é a vilã. Ou talvez não necessariamente uma vilã. Clássica personagem do estúdio e de sua galeria de vilões, Malévola era temível e ameaçadora no desenho de 1959, uma das minhas vilãs preferidas dos filmes de princesas da Disney, por assim dizer. Uma figura imponente que não media esforços. A Malévola deste filme, interpretada por Angelina Jolie, mantém os elementos clássicos da personagem, mas com um fundo de humanidade. Aqui, conhecemos o que levou Malévola a se tornar uma pessoa obscura. Não temos a superficialidade de um típico vilão com risadas sinistras e frases de efeito, muito pelo contrário, no filme, a personagem é posta como alguém como qualquer outro, que soube amar, cuidar, se preocupar e ser justa, mas que no processo, foi machucada a tornando reclusa e solitária. Mas sem nunca deixar de, lá no fundo, ser a pessoa doce e humana que um dia foi.


Tudo isso me chamou mais atenção do que o lado fantástico da obra. Os vilões por si só fazem mais sucesso e são mais queridos pelo público por natureza. E cá entre nós, eles são os melhores sem dúvida! E fazer o público entender os sentimentos desse tipo de personagem, torcer por ele e se emocionar é um feito muitíssimo gratificante. Em “Malévola”, apesar dos problemas estruturais do seu roteiro que vou falar a seguir, consegue esse feito, e talvez um dos grandes méritos do filme, se não o maior deles, é ter Angelina Jolie encarnando esse papel. A atriz está muito mais do que se divertindo, mas se entrega de tal maneira, que traz uma profundidade que se dependesse apenas do roteiro não teríamos. Seus olhares são maravilhosos, sua fala é essencial e cada gesto e movimento do seu corpo é Angelina expressando algo sobre Malévola. Uma atriz que não tem um rosto de mulher inocente, mas sim, aquele sexy-appeal que já conhecemos bem em seus filmes, e a atriz usa isso criando uma personagem orgânica, sensível, imprevisível e, devo dizer, sexy. Detalhe este que a torna ainda mais interessante e fascinante. 

Dirigido pelo estreante na direção Robert Stromberg, que na realidade é designer de produção e de efeitos visuais de filmes como “As Aventuras de Pi”, “Piratas do Caribe: No Fim do Mundo”, “Jogos Vorazes” e outros, e ganhador de dois Oscars de melhor designer de produção pelos filmes “Avatar” e “Alice no País das Maravilhas”, Stromberg é um profissional que sabe trabalhar com efeitos e construir cenas. Há momentos de puro delírio visual como as sequencias de voo da personagem ou mesmo o visual do mundo das fadas onde vive Malévola. 


Mas dentre tantas qualidades, “Malévola” erra em pontos chaves que prejudicam um melhor aprofundamento nas relações apresentadas no filme. Se os motivos que levaram Malévola ao lado sombrio são apresentados de uma maneira eficiente no início do filme, relacionando sua “maldade” a uma decepção amorosa que sofreu com Stefan, que se tornaria rei e pai da princesa Aurora, esse envolvimento soa extremamente apagado no grande clímax, e a mudança de personalidade de Stefan, sua ganância pelo reino e os motivos que o levaram trair a pessoa que dizia amar tanto, são passados superficialmente tornando-o um personagem apático e pouco interessante dentro da história, e sem impacto algum, o que torna ainda mais banal sua insanidade no já citado grande clímax.

Sem falar também da rapidez que se resolve o sono profundo da famosa princesa, comprovando que os roteiristas estavam pouco interessados na história da Bela Adormecida e também o desleixo que o roteiro tem com as três fadas madrinhas, na obra original três pessoas super protetoras que, apesar do tom cômico, se preocupavam ao máximo com a princesa. No filme, Aurora fica fora de casa até altas horas da noite e não é mostrado nenhum pingo de preocupação das personagens, que só aparecem para fazer piadinhas. 


Mantendo a cultura das mulheres fortes e independentes que não precisam de homens e nem de ninguém para se sobressaírem, “Malévola” tem uma reviravolta que lembra muito o já clássico “Frozen – Uma Aventura Congelante” e é a Disney subvertendo mais uma vez os seus próprios clichês, adaptando suas personagens femininas ao mundo atual. E isso é simplesmente ótimo! 

Malévola” consegue ser a melhor releitura de um conto de fadas até agora. Apesar dos pesares, é um filme que diverte, é visualmente magnifico, estabelece bem a nova visão que tiveram da protagonista e possui uma atriz forte e interessante num papel que requeria justamente alguém do seu perfil. Um entretenimento que vale a pena e merece ser visto. Ponto final.

Comentário por Matheus C. Vilela

quinta-feira, 22 de maio de 2014

NoCinema: X-MEN - DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO

X-Men: Days of Future Past/EUA
Ano: 2014 - Dirigido por: Bryan Singer
Elenco: Hugh Jackman, James MacAvoy, Michael Fassbender

NOTA: «««««

Sinopse: No futuro, os mutantes são caçados impiedosamente pelos Sentinelas, gigantescos robôs criados por Bolívar Trask (Peter Dinklage). Os poucos sobreviventes precisam viver escondidos, caso contrário serão também mortos. Entre eles estão o professor Charles Xavier (Patrick Stewart), Magneto (Ian McKellen), Tempestade (Halle Berry), Kitty Pryde (Ellen Page) e Wolverine (Hugh Jackman), que buscam um meio de evitar que os mutantes sejam aniquilados. O meio encontrado é enviar a consciência de Wolverine em uma viagem no tempo, rumo aos anos 1970. Lá ela ocupa o corpo do Wolverine da época, que procura os ainda jovens Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender) para que, juntos, impeçam que este futuro trágico para os mutantes se torne realidade.


Em 2000 chegava aos cinemas “X-Men – O Filme”, obra que adaptava os populares quadrinhos da Marvel sobre um grupo de mutantes cuja principal luta, muito além do que meramente lutar contra outros seres super poderosos, era a busca pelo aceitamento do seu espaço dentro de uma sociedade não acostumada com tais tipos de seres humanos. Bryan Singer, diretor do filme, conseguiu trazer de uma maneira tão viva e equilibrada essa discussão, sem abusar de efeitos ou ação, que despertou em Hollywood não apenas o interesse dos estúdios em apostar em filmes adaptados de quadrinhos novamente, como despertou o interesse do público com uma discussão identificável para qualquer pessoa. 

Um tema sempre mantido nos demais filmes da franquia, Bryan Singer, após deixar a direção do terceiro filme para dirigir “Superman – O Retorno” (2006), volta ao posto de diretor neste “X-Men – Dias de Um Futuro Esquecido” adaptando um dos mais conhecidos arcos das histórias dos X-Men nos quadrinhos. E nada melhor que a viagem no tempo para trazer personagens anteriormente mortos nos demais filmes, como também abre a possibilidade de consertar certas incongruências narrativas na linha cinematográfica dos X-Men. Ainda que no final de tudo não deixe tê-las, isso não passa de detalhes e não interfere em absolutamente nada na eficiência do filme e muito menos nas ligações feitas com os longas já lançados da franquia. 


O mundo atual está destruído. Devastado pelo poder arrasador dos Sentinelas, robôs criados para exterminar a raça mutante mas que no processo não deixou de poupar humanos. Os mutantes estão cada vez mais escassos e o mundo já não é um lugar habitável para nenhum de nós. Xavier juntamente com os mutantes sobreviventes desse holocausto encontram a solução na volta no tempo, mas precisamente no ano de 1972 para impedir que Mística (Jennifer Lawrence) mate o cientista e empresário Bolivar Trask (Peter Dinktale), criador dos Sentinelas, liberando o ódio do mundo contra os mutantes confirmando a ideia dos humanos de “ser uma raça violenta que será responsável pelo extermínio do Homo Sapiens”. Wolverine é o escolhido para o serviço e sua mente é transportada para o seu corpo dos anos 70 com a missão de encontrar os jovens Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender) para impedir os planos da Mística e impedir que a humanidade tenha o destino devastador mostrado no inicio do filme. 

O roteiro não busca entrar na discussão de como funciona a viagem no tempo ou como a mutante Kitty Pryde/Lince Negra adquiriu os poderes de transportar a mente de outras pessoas para o passado e, particularmente, acho isso ótimo. Soa orgânico, não cria delongas no roteiro que têm espaço para se preocupar com o que realmente interessa: a história central! 


Outro ponto forte é o fato de deixarem de escanteio o próprio Wolverine, que sempre foi o centro das atenções nos filmes anteriormente. Ele aparece bem, tem presença de cena, protagoniza ótimas cenas de ação, tanto que a escolha de Singer e os roteiristas em levá-lo para o passado é justamente para aproveitar um personagem tão amado pelo público, já que na HQ quem volta no tempo é a Kitty Pryde, mas Wolverine não ofusca o foco central do roteiro que é o triângulo Xavier, Magneto e Mística. 

Realçando a velha discussão entre Xavier e Magneto, aqui temos uma forte continuidade da história de cada um vista no excelente “X-Men – Primeira Classe”, se aprofundando mais ainda no relacionamento entre os três mostrando como a relação entre o trio chegou ao ponto dos primeiros filmes dos X-Men. E a ligação com “X-Men – O Filme”, “X-Men 2” e “X-Men 3: O Confronto Final” é fantástica criando um universo mais redondo e modelando com maior perfeição todo o arco dos mutantes no cinema, sendo este o filme que mais necessita da presença dos anteriores, e sendo este o melhor eficiente como filme solo. É soberba a construção da história capaz de contar uma trama singular de maneira plausível, mas ao mesmo tempo criando forte ligação com os filmes anteriores, mas de um jeito que não atrapalha a experiência de quem, por acaso, não assistiu os outros filmes. 


Criando cenas de ação eficientes, Singer utiliza os poderes de cada mutante coadjuvante com fluidez aproveitando o talento de cada um em cenas de ação criativas e empolgantes. Principalmente a cena envolvendo o personagem Mercúrio e o seu poder de alta velocidade. A cena não só é divertida, como comprova que não devemos criticar um personagem pelo que vemos em fotos ou cartazes. Criticado severamente pelo visual nas redes sociais, este Mercúrio dos X-Men (lembrando que o personagem também será usado em “Vingadores 2” com outra finalidade e outro ator) não é um dos mutantes principais do filme, mas o seu tempo de tela já consegue mostrar a simpatia e carisma do ator Evan Peters, que já foi confirmado no próximo filme “X-Men: Apocalipse”. 

Dramático e tocante. Empolgante e extasiante. “X-Men – Dias de Um Futuro Esquecido” marca a volta triunfal de Bryan Singer ao universo que ele mesmo foi o responsável por nos apresentar. Criando um filme maduro que aborda os temas freqüentes dos X-Men com maestria, equilíbrio e sensibilidade, o filme surpreende se tornando, para mim, o melhor de toda a franquia mutante no cinema. Rever atores tão queridos como Ian McKellen (Magneto) e Patrick Stewart (Xavier) reprisando os seus respectivos papéis é uma alegria sem tamanho principalmente para aqueles, como eu, que cresceram assistindo uma, duas, três e inúmeras vezes os filmes dos X-Men. E agora “Dias de Um Futuro Esquecido” entra para a lista de vícios e filmes memoráveis de super-heróis. Não gostei, eu amei!

Comentário por Matheus C. Vilela

sexta-feira, 16 de maio de 2014

NoCinema: GODZILLA

Godzilla/EUA
Ano: 2014 - Dirigido por: Gareth Edwards
Elenco: Bryan Cranston, Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe

NOTA: «««««

Sinopse: Joe Brody (Bryan Cranston) criou o filho sozinho após a morte da esposa (Juliette Binoche) em um acidente na usina nuclear em que ambos trabalhavam, no Japão. Ele nunca aceitou a catástrofe e quinze anos depois continua remoendo o acontecido, tentando encontrar alguma explicação. Ford Brody (Aaron Taylor-Johnson), agora adulto, é soldado do exército americano e precisa lutar desesperadamente para salvar a população mundial - e em especial sua família - do gigantesco, inabalável e incrivelmente assustador monstro Godzilla.


Godzilla apareceu pela primeira vez em 1954 no filme japonês de mesmo nome, exemplificando o medo de uma nação que se reerguia das cinzas após a Segunda Guerra Mundial, principalmente depois das bombas nucleares em Hiroshima e Nagazaki. A metáfora do monstro destruindo cidades e sendo uma força incontrolável para o homem é o conceito desse ser (EUA?) que chega sem avisos trazendo consigo a destruição e a morte. Obviamente que com os anos tal conceito foi se diluindo, e o personagem foi ganhando filmes cada vez mais voltados para o entretenimento e a catarse, com Godzilla enfrentando outros tipos de monstros em duelos que levavam, principalmente, o público japonês ao delírio. 

Em 1998 a criatura ganha sua versão ocidental com Hollywood transformando o bicho numa força de destruição em massa dentro de um filme equivocado que colocava a criatura se escondendo pelos esgotos de Nova York (???), assexuada e mais semelhante com um dinossauro do que com a forma original que lhe foi concebida. Sem falar do típico romance agridoce comum no cinema norte-americano que tornava ainda mais tediosa a experiência. 


Após 16 anos o monstro japonês ganha sua segunda adaptação ocidental para as telonas agora bebendo da fonte original e se preocupando com o impacto de um ser como Godzilla à solta no mundo. O diretor Gareth Edwards (que ganhou notoriedade com o belo “Monsters”) e os roteiristas David Callaham, David S. Goyer e Max Borenstein, colocam Godzilla como a força da natureza que ele é e, diferente do filme de 1998, criam uma abordagem mais realista de como reagiria a humanidade diante de tal força. 

Inserindo outros dois monstros chamados de MUTO (Massive Unidentified Terrestrial Organisms, ou “organismo terrestre gigante não identificado”), também alimentados pela radioatividade e há muitos anos hibernados, Callaham, Goyer, Borenstein e Edwards os usa como animais que agem através dos seus instintos dentro de um mundo que cresceu sem o conhecimento da sua existência (exceto, claro, o governo). Os dois seres acordam e partem em busca um do outro na natural intenção de se acasalarem. Godzilla aparece como o balanço dessa natureza, como o predador presente ali para impor sua dominação. Uma natural disputa de espécies. O clico da vida de criaturas que, quando dominavam toda a terra milhares de anos atrás num período em que a radiação era alta na superfície, tais confrontos era natural. 


Já o ser humano aparece como o intruso dentro desse conflito. Enquanto os bichos estão agindo por instinto e pouco se preocupando com os seres desprezíveis que somos, a raça humana precisa conviver com as consequências da disputa entre eles e buscar se adaptar nesse “novo” mundo. Somos telespectadores. E assistindo a destruição ocasionada pelas criaturas, dispomos de todo o nosso armamento para conter essa força da natureza. Em certo momento um dos personagens fala: “É um erro do homem pensar que ele é capaz de controlar a natureza, e não o contrário”, e isso é justamente a base de todo o conceito deste novo filme. 

É o exemplo dos seres humanos e as formigas. Nós seríamos os monstros, os “godzillas”, enquanto as formigas seríam os humanos buscando sobreviver num mundo tomado por gigantes. No caso do filme, a gente se encaixaria no papel das formigas. 


Mas obviamente que, se a história busca esse lado mais humano e realista, é claro que teremos um drama familiar para criar essa ponte de contato do público com os desastres decorrentes. A ideia é ótima, porém, infelizmente, o roteiro deixa de aproveitar os personagens mais interessantes para focar na típica situação clichê do herói de ação com a família separada tentando sobreviver para no final se reencontrarem novamente. 

Bryan Cranston (nosso Walter White/Heisenberg da série “Breaking Bad”) e Ken Watanabe interpretam aqueles que seria os personagens mais fortes do filme. O primeiro trabalha numa usina nuclear, perde a esposa quando acontece um aparente “terremoto” na usina, cria o filho sozinho, mas nunca deixou de acreditar que todo o ocorrido foi muito mais do que o governo divulgou. E Ken Watanabe interpreta um estudioso sobre tais seres gigantes que habitaram a Terra anos atrás. Final da história? Cranston é descartado rapidamente sendo usado como gancho para o seu filho, interpretado pelo jovem Aaron Taylor-Johnson assumir o filme e encarnar o herói de ação com a família dividida, e Watanabe se resume como o sujeito que vai explicar tudo que está acontecendo para a plateia, e é usado unicamente para isso e nada mais. Daí, voltamos a falar de Aaron Taylor-Johnson novamente que pouco se destaca, mais ainda assim ganha o filme para si nos momentos “humanos”. Resultado final? Você pouco se importa com ele! 


Entretanto, este “Godzilla” de Gareth Edwards, felizmente, abraça a ação no ato final e se entrega ao espetáculo mostrando um forte confronto entre Godzilla e os MUTO. A beleza e perfeição dos efeitos é inegável, assim como a fotografia e a ótima construção das cenas criando grande empolgação no público. E o mais bacana de tudo isso é que o Godzilla no filme, apesar de acharmos que será o grande vilão, na realidade, é colocado como o herói da humanidade estando ali para combater os outros monstros. Devido a sutileza do diretor Gareth Edwards, que já conseguiu trazer humanidade a monstros na estupenda cena final de “Monsters”, aqui repete o feito com o Godzilla, conseguindo fazer com que o público torça, se identifique e se emocione com ele. 

Uma obra com falhas e deslizes, porém, extremamente competente em seus outros aspectos, “Godzilla” é um filme que não só respeita o material original japonês, como consegue trazer certa humanidade a um ser que todos olham como vilão. E repito: a luta final é espetacular e memorável! Vale a pena!

Comentário por Matheus C. Vilela 

quinta-feira, 1 de maio de 2014

NoCinema: O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA 2: A AMEAÇA DE ELECTRO

The Amazing Spider-Man 2-EUA
Ano: 2014 - Dirigido por: Mark Webb
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Jamie Foxx

NOTA: «««««

Sinopse: Peter Parker (Andrew Garfield) adora ser o Homem-Aranha, por mais que ser o herói aracnídeo o coloque em situações bem complicadas, especialmente com sua namorada Gwen Stacy (Emma Stone) e sua tia May (Sally Field). Apesar disto, ele equilibra suas várias facetas da forma que pode. No momento, Peter está mais preocupado é com o fantasma da promessa feita ao pai de Gwen, de que se afastaria dela para protegê-la. Ao mesmo tempo ele precisa lidar com o retorno de um velho amigo, Harry Osborn (Dane DeHaan), e o surgimento de um vilão poderoso: Electro (Jamie Foxx).



Não sou um assíduo leitor de quadrinhos da Marvel, confesso, mas sei bem o básico do universo do Homem-Aranha e sua trajetória na TV. Com as séries animadas ao longo dos anos, minha afinidade com o herói só foi crescendo. Até que venho os filmes dirigidos por Sam Raimi (Homem-Aranha 1, 2 e 3), e destaco principalmente os dois primeiros, que traziam dentro de sua história aquilo que sempre foi a ideia essencial do herói aracnídeo: o sujeito comum e sem grandes perspectivas que aprende com os erros e cresce com suas desilusões e tragédias. 

Existia dentro dos primeiros filmes aquela necessidade de vivência. A ansiedade de Mary Jane em alcançar o seu sonho de ser atriz, Peter buscando lidar com seus poderes e administrar o tempo entre suas responsabilidades sociais e como herói, ou seja, Raimi conseguiu trazer uma humanidade tão próxima da nossa, de um herói que, mesmo com poderes, era tão como nós, cheio de problemas e frustrações, que conseguíamos vivenciar o heroísmo quando Peter colocava a máscara e saía por Nova York com suas teias. Eram filmes com problemas? Claro que tinham, mas eram apagados por essa ótima abordagem do roteiro, que criava tão bem o espirito de heroísmo e a cada filme, até mesmo o terceiro, tinha o seu tom narrativo cronometrado e bem conduzido passando do drama para as ótimas cenas de ação com fluidez e competência. 


Apesar de ter achado um filme bem melhor que o primeiro, este “O Espetacular Homem-Aranha 2”, que recria do zero no cinema todo o universo do herói, mantém as qualidades que no filme de 2012 eram notáveis e gratificantes, como a ótima química entre Peter e Gwen Stacy e a abordagem sutil e tocante do diretor Marc Webb (de “500 Dias Com Ela) aos dois. Neste daqui o envolvimento entre ambos mostra-se o maior foco do filme, e se cria toda uma identificação que é trabalhada com o desenrolar da trama até chegar no impactante ato final. 

No entanto, apesar de acertar nos diálogos entre Peter e Gwen, o problema do filme é justamente a sua falta de ritmo, a péssima construção narrativa e uma história mais preocupada com o espetáculo visual e em expandir um universo do que focar na trajetória do herói e no amadurecimento de Peter Parker, seja com a morte, ou com o término de um relacionamento, ou com a perda dos pais, etc. Diferente do Peter dos filmes de Sam Raimi, o novo Peter nunca parece aprender nem usar os revezes da vida para moldar sua personalidade seja como símbolo (o Homem Aranha) ou como pessoa (Peter Parker). 


A história envolvendo os pais do herói continua aquele detalhe oportunista para justificar não só o destino que teve o filho do casal, como para ter uma razão para se criar uma galeria de vilões. Neste daqui são três, mas o filme já apresenta easter eggs para outros tantos. Gostava do fato de pessoas comuns com boas intenções (Dr. Octopus e Homem Areia) ou daquelas com motivos estritamente pessoais (Norman Osborn) sofrerem um acidente imprevisível e se transformarem nos vilões que não queriam ser. Já em “O Espetacular Homem-Aranha 2” as motivações de cada um partem do besta para o infantil. O sujeito bobão que sonha em ter atenção (Electro), o filhinho de papai que está morrendo, pede ajuda para o cabeça de teia e não é atendido (Harry Osborn) e o outro que não passa de um mero lunático com gosto para violência e cujas atitudes nunca são esclarecidas (Rino). 

De uma maneira bem enfática e direta: “O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro” é um filme muito arrastado e sem graça! Como mencionei antes, um dos problemas é a falta de ritmo e o tom que o diretor Marc Webb nunca parece encontrar. As cenas do Homem-Aranha balançando pela cidade com suas teias, de fato, são belíssimas e espetaculares, mas o filme pouco investe na ação e quando investe são cenas breves e mal inspiradas criando confrontos rápidos e sem clímax com duelos superficiais e pouquíssimos embates corpo a corpo. Detalhe este que nos filmes de Sam Raimi era presente e muito bem executado, exemplo disso é o segundo filme, “Homem-Aranha 2” (2004), cujas lutas entre o herói e o vilão são memoráveis. 


Portanto, ainda que melhor que seu antecessor e com dois ótimos atores que compõe um casal cuja química flui e encanta, ainda assim, “O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro” continua longe do espetacular. Ao sair do cinema, a sensação deixada foi a de uma obra tediosa e sonolenta que foca tanto em querer explicar o passado do herói com os seus pais, que esquece de se preocupar com a imagem desse herói. Podem dizer que este Homem-Aranha com o seu estilo piadista e intrometido foi extremamente fiel aos quadrinhos e muito melhor que o anterior interpretado por Tobey Maguire, porém, infelizmente, foi usado em um filme que, de um modo geral, é bem fraquinho.

Comentário por Matheus C. Vilela