Cine Holliúdy-BRASIL
Ano: 2013 - Dirigido por: Helder Gomes
Elenco: Edmilson Filho, Roberto Bomtempo, Miriam Feeland
NOTA: «««««
Sinopse: Interior do Ceará, década de 1970. A popularização da TV permitiu que os habitantes da cidade desfrutassem de um bem até então desconhecido. Porém, o televisor afastou as pessoas dos cinemas. É aí que Francisgleydisson entra em ação. Ele é o proprietário do Cine Holiúdy, um pequeno cinema da cidade que terá a difícil missão de se manter vivo como opção de entretenimento.
O diretor Helder Gomes é um batalhador. Dividiu a direção de “As Mães de Chico Xavier” com Glauber Filho, e neste “Cine Holliúdy”, primeiro filme no edital de longas metragens de baixo orçamento do Ministério da Cultura e derivado de um curta de Helder, o diretor comanda o filme sozinho brincando com o humor cearense em um filme autêntico, com personalidade e que esbanja um amor incondicional pela Sétima Arte.
Obviamente que o longa apresenta os seus problemas, como uma montagem fraca que prejudica seriamente o ritmo do filme que possui momentos de cortes bruscos o que atrapalha a experiência do momento. E o uso de legendas, já que o filme brinca com o sotaque nordestino do Ceará, classificando-o como outro idioma dentro do Brasil, inicialmente me pareceu fantástica e sem dúvida alguma é algo inusitado e original. O problema é que, o que deveria ser uma forma de linguagem e um dos pontos fortes do humor da obra, resulta em algo desnecessário que nada acrescenta, já que a legenda acompanha as expressões locais mostrando nada de diferente do que ouvimos.
Mas fora tais problemas, “Cine Holliúdy” foi a melhor experiência de comédia brasileira que vi este ano. Nosso cinema tem saturado aos montes o gênero de comédia com filmes globais em grande maioria sem graça, que repetem fórmulas e reciclam piadas vistas com frequência nos humorísticos televisivos, ou nos canais da internet, como é moda atualmente. Já “Cine Holliúdy” não! O longa de Helder Gomes é autêntico, possui momentos hilários e o diretor aproveita muito bem o “idioma” cearense criando diálogos memoráveis que proporcionam ótimos risos como há muito tempo não via no cinema nacional.
E Helder Gomes aproveita para mostrar sua paixão pelo cinema e como ele foi importante desde sua infância para sua formação. Inspirado por filmes de kung fu e pelo mestre Bruce Lee, Gomes mostra a importância do cinema e como esse meio tão poderoso influência o ser humano. Destaco certo momento em que o personagem principal Francisglaydisson, interpretado por Edmilson Filho, fala ao povo da cidadezinha onde mora que “... enquanto haver vida, existirá cinema”.
Interessante também é a preocupação do protagonista diante da chegada da televisão nas cidadezinhas interioranas do Ceará, já que tal aparelho é uma ameaça para os cinemas das cidades. Se antes da década de 70, um dos passatempos mais utilizados pelas pessoas era a ida ao cinema, com a chegada da televisão, sair de casa ficou uma opção frustrante e cansativa, apenas poucos se utilizavam de tal prática, o que, infelizmente, resultou no fechamento de muitos estabelecimentos. No Ceará, atualmente, existem menos de dez salas, e isso incluindo a capital. Difícil de acreditar né? Pois bem, esta é uma das abordagens de Helder, que com um olhar otimista, mostra o cinema como o maior meio de diversão e entretenimento do planeta, e que televisão nenhuma é capaz de superá-lo.
Sucesso nos cinemas cearenses, desde “O Auto da Compadecida” não assistia uma comédia brasileira cuja boa parte do humor encontra-se nas falas dos personagens, e que possui certa originalidade e ambições autênticas que fazem do filme algo único e prazeroso de se ver. É perfeito? Não, não é, mas com tanta porcaria jogada hoje nas telonas, ver “Cine Holliúdy” é um alivio e uma experiência reconfortante que faz valer cada centavo gasto no ingresso. Muito bom!
Comentário por Matheus C. Vilela
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