Les Misérables/EUA
Ano: 2012 - Dirigido por: Tom Hooper
Sinopse: Adaptação de musical da Broadway, que por sua vez foi inspirado em clássica obra do escritor Victor Hugo. A história se passa em plena Revolução Francesa do século XIX. Jean Valjean (Hugh Jackman) rouba um pão para alimentar a irmã mais nova e acaba sendo preso por isso. Solto tempos depois, ele tentará recomeçar sua vida e se redimir. Ao mesmo tempo em que tenta fugir da perseguição do inspetor Javert (Russell Crowe).
”Os Miseráveis” foi escrito pelo escritor francês Victor Hugo e publicado pela primeira vez em 1862. A obra foca na história de Jean Valjean, um condenado posto em liberdade que é perseguido pelo inspetor Javert incessantemente durante anos. O pano de fundo é o período de conflitos no país como a Batalha de Waterloo em 1815 e os motins de junho de 1832, servindo para Victor Hugo aprofundar-se na extrema pobreza da população e nas desigualdades sociais desta, marcada pelo desprezo da nobreza para com as classes inferiores, principalmente depois da vinda da tuberculose que matou milhares de pessoas.
O clássico livro talvez seja uma das obras mais adaptadas da história. Tendo inúmeras versões para a televisão, cinema e teatro, “Os Miseráveis” ganhou enorme destaque mundialmente com a adaptação feita para os palcos da Broadway, onde os temas e conflitos inspiraram a construção de um musical encabeçado por canções que conquistaram o mundo como “I Dreamed I Dream” e “On My Own”.
Portanto, adaptar novamente a homônima história para as telas, ainda que sua última versão tenha sido lançada apenas em 1998 com Liam Neeson e Uma Thurman no elenco, tinha que se pensar em algo diferente e não apenas realizar mais uma adaptação do livro para o cinema. Felizmente, o diretor Tom Hooper (vencedor do Oscar por “O Discurso do Rei”) conseguiu esse diferencial, adaptando o musical da Broadway numa versão nunca antes levada ao cinema.
Um filme cuja história é contada praticamente cantada, com pouquíssimos diálogos, Hooper faz um filme onde se aproveita a qualidade de sua história mesclando bem a trama de cada personagem juntamente com o contexto histórico da época, e o que poderia soar um musical chato e cansativo, “Os Miseráveis”, ainda que seja realmente longo e com alguns problemas, conseguiu em suas duas horas e meia prender totalmente minha atenção com um ritmo sempre fluido, sem enrolações e que se desenvolve de maneira empolgante e cada vez mais envolvente.
O que pode causar certo desconforto é justamente o excesso de músicas. Há momentos onde uma frase bem dita consegue ser mais impactante do que uma frase cantada, ainda que bem cantada. "Os Miseráveis” perde emoção em alguns momentos devido a isso. Se em determinado instante uma música emociona, em outros não chega a ajudar tanto. Porém, Hooper não deixa a obra prejudicar-se por causa disso. Até em suas imperfeições o filme consegue ser atrativo e envolvente.
O diferencial deste musical para com os demais feitos por Hollywood, é que aqui Tom Hooper decidiu captar ao vivo a voz dos atores e não gravar primeiro a música em um estúdio para depois cada ator dublar em cena. Com o intuito de criar algo mais realista e verdadeiro, tal escolha soa incrivelmente eficaz, pois traz maior veracidade ao drama dos personagens gerado pela emoção genuína do ator naquele momento, que pôde adaptar sua voz de acordo com o que estava sentindo, sem seguir regras de dublagem e muito menos apresentar uma voz perfeita. Aqui, pelo fato de ser ao vivo, as vozes são imperfeitas cheias de entonações fora do ritmo e desigualdades de tonalidade quando vários atores cantam juntos. Mas isso não é problema nenhum, aliás, é um detalhe que trabalha a favor do filme, já que isso, como já falei, gera maior vivacidade e realismo ao musical trazendo uma emoção palpável já que podemos ver que os atores não estão dublando.
Exemplo dessa imperfeição se encontra justamente na voz de Russell Crowe, que interpreta o inspetor Javert. Crowe nitidamente canta mal e pouco consegue acertar na entonação, no entanto, não o considero horrível como muitos falaram. Obviamente que eles testaram a voz de Crowe antes e o diretor percebeu tal problema, mas a decisão de mantê-lo se encaixa perfeitamente na intenção de Hooper em criar algo mais perto do real, mostrando que se a vida fosse de fato um musical, nem todo mundo cantaria maravilhosamente bem. E a voz do ator, ainda que ruim, não chega a ser um desastre a ponto de prejudicar o resultado final do filme. Temos até um momento onde Crowe me conquistou cantando a música “Stars” em cima de um telhado olhando toda a cidade. Um dos meus momentos preferidos do filme.
Em contra partida ao desafino de Crowe, outros atores já conseguem um resultado mais feliz na cantoria. O protagonista Hugh Jackman estremece não só nas canções, mas principalmente em toda a emoção que transmite para o público. Sentimos a tristeza e o pesar dos anos injustiçados em seus olhos e na tonalidade de sua voz mostrando a total entrega do ator ao personagem e realiza uma das melhores atuações que já vi em um musical.
Anne Hathaway para mim é a melhor de todo o filme. A atriz, assim como Jackman, entrega o seu melhor transparecendo toda a dor de sua personagem Fantine em tela. Quando a atriz canta “I Dreamed I Dream” é impossível não conter as lágrimas e sentir, assim como diz a música, os sonhos perdidos da personagem.
Os demais atores também estão excelentes: Amanda Seyfried, Eddie Reymayne, a estonteante Samantha Banks que emociona cantando “On My Own” e os responsáveis pelos momentos mais descontraídos do filme, Sacha Baron Cohen e Helen Bohan Carter, mostram a força e a importância de se ter excelentes atores. Até alguns desconhecidos como os jovens Daniel Huttlestone e Isabelle Allen apresentam vozes lindíssimas superiores a muitos atores mais velhos do filme.
A produção também é de se chamar a atenção. Contrapondo ao realismo desejado em relação às vozes dos atores nas canções, Hooper já cria cenários grandiosos, bem exagerados e com muitas cores referindo-se a estética teatral da obra na qual o filme é baseado. E com isso, faz-se uma mistura perfeita da crueza das vozes com a amplitude dos cenários.
Portanto, “Os Miseráveis” é um musical que, ainda falho, consegue emocionar e nos levar para dentro de sua história nos fazendo se interessar por cada personagem. Um filme cheio de energia, vigor, beleza e emoção que traz de maneira original a arrebatadora história escrita por Victor Hugo. Vive Lés Miserables!
Nota: «««««
Comentário por Matheus C. Vilela
1 comentários:
Gostei demais do seu texto Matheus, mas tenho ressalva quanto ao filme. Motivo? Dois! 1º Tom Hooper e 2º um musical que funciona melhor nos palcos. DEve ser bonito visualmente, mas como já conheço as músicas, as tramas, devo me cansar pela axaustão da cantoria.
Toda vez que ouço I Dreamed A Dream, cara, penso imediatamente na Susan Boyle. Rs! E a senhora canta lindamente.
Verei de qualquer forma.
Abraço.
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