Recentemente em um Congresso numa Universidade norte-americana, os cineastas Steven Spielberg e George Lucas deram uma declaração um tanto quanto preocupante. Ambos alegaram que a indústria cinematográfica de Hollywood vem passando por uma crise cujo futuro não é nada animador. Spielberg disse em determinado momento que “Eventualmente, vai acontecer uma implosão - ou uma grande ruptura. Vai haver uma implosão quando três, quatro ou talvez meia dúzia de mega produções vão dar errado, e isso vai mudar o paradigma”, e isso já podemos perceber dando uma olhada nas super produções lançadas no chamado “verão americano” deste ano, período onde Hollywood costuma lançar os seus filmes mais caros aproveitando as férias escolares.
Creio que depois de 2013 muitos estúdios vão pensar duas vezes antes de dar sinal verde para um projeto. Filmes como “Homem de Ferro 3”, “Além da Escuridão - Star Trek”, “Velozes e Furiosos 6” e “Homem de Aço”, garantiram o sucesso pois derivam de materiais já existentes e sinônimos de sucesso. Enquanto que apostas em novos projetos que o público atual desconhece como “O Cavaleiro Solitário”, “RIPD”, “Depois da Terra” e “Círculo de Fogo”, o resultado nas bilheterias não só foi decepcionante como acende um sinal de alerta e preocupação na indústria norte americana.
“O Cavaleiro Solitário”, baseado numa série de TV da década de 50, recebeu todo o endosso e grandiosidade da mesma equipe de “Piratas do Caribe”. Modernizado, com cenas de ação megalomaníacas e inúmeros efeitos especiais de encher os olhos, o filme foi custeado em US$ 250 milhões, e não arrecadou US$ 50 no seu primeiro final semana. O mesmo com o novo filme de Will Smith, “Depois da Terra”, que custaram altos US$ 135 milhões e arrecadou em seu final de semana de estreia apenas US$ 27 milhões.
Daí, entramos em outra questão sobre qual, de fato, é a fórmula do sucesso atualmente. “O Cavaleiro Solitário” e “Depois da Terra” são exemplos de duas obras encabeçadas por atores de peso e renome como Johnny Depp e Will Smith, mas que não conseguiram decolar mesmo tendo forte divulgação em cima dos seus nomes. Antigamente quando se dizia que determinado filme teria a presença de um Tom Hanks ou Marlon Brando, o sucesso era garantido e multidões corriam para assistir o novo filme do astro queridinho da América. Hoje em dia vê-se que não é assim. Um filme precisa de muito mais que um nome conhecido para levar pessoas ao cinema. E mais difícil ainda fica com a pirataria e as novas mídias que facilitam não apenas o acesso do público aos filmes, como os tornam muito mais cômodos e retraídos.
Imagine um pai de família que chega numa sexta feira em casa cansado do trabalho, quer tirar o final de semana para ficar com a família e relaxar. Ele passa a semana inteira preocupado, saí do trabalho todos os dias e enfrenta um transito congestionado com um barulho ensurdecedor. Imagina esse mesmo pai de família ter de enfrentar um trânsito congestionado com um barulho ensurdecedor para chegar ao shopping, e lá dentro ter de enfrentar uma fila quilométrica para comprar os ingressos do filme? A opção de alugar um vídeo pela internet, ou comprar uma cópia pirata na feira ou assinar pacotes que disponibilizam na integra filmes que acabaram de sair do cinema soa muito mais confortável e gratificante do que enfrentar estacionamento de shopping, fila na lanchonete e fila no cinema. E vale lembrar que tal empreitada fica bem mais cara do que organizar um programa familiar dentro de casa.
Outro grande fracasso da temporada foi “O Ataque”, longa de ação dirigido por Roland Emmerich que dirigiu sucessos como “2012” e “Independence Day”, que custou US$ 130 milhões e arrecadou um pouco mais de US$ 50 milhões já com duas semanas em cartaz. Outra prova de que não basta oferecer destruição em massa sem proposito para conquistar o público. Já temos esse tipo de material com marcas mais conhecidas como “Velozes e Furiosos” e “Transformers” e tentar um espaço nesse campo de gigantes trazendo nada mais do mesmo é arriscado.
Os sucessos da temporada ficam a cargo de filmes menores como a comédia “As Bem Armadas” com Sandra Bullock e Melissa McCharty que custou US$ 43 milhões, “Truque de Mestre” com custo estimado em US$ 75 milhões e ambos já quebraram a barreira dos US$ 100 milhões somente nos Estados Unidos. O suspense “The Purge” com Ethan Hawke que arrecadou mais de US$ 60 milhões e apenas US$ 3 milhões para ser feito. A nova comédia de Seth Rogen e amigos “É o Fim” e o terror “Invocação do Mal” também foram outros que custaram menos de US$ 50 milhões e já caminham para quebrar a barreira dos 100.
Será que Hollywood vai começar a pegar os milhões investidos em apenas um filme e dividir o valor investindo em obras mais baratas com grandes chances de um retorno maior, e se caso não, de um prejuízo mais ameno do que se fosse com um blockbuster? Se o cinema continuar no caminho que mostrou seguir este ano, não vejo outra alternativa. Ao menos de acordo com pessoas entendidas como Spielberg e Lucas o apocalipse em Hollywood não está muito longe.
SUPER PRODUÇÕES QUE SUPER DECEPCIONARAM NAS BILHETERIAS ATÉ AGORA
DEPOIS DA TERRA
Valor de produção: US$ 135 milhões
Final de semana de estreia (USA): US$ 27,520 milhões
Arrecadação total EUA: US$ 59,400 milhões
O ATAQUE
Valor de produção: US$ 150 milhões
Final de semana de estreia (USA): US$ 24,852 milhões
Arrecadação total EUA: 63 milhões
O CAVALEIRO SOLITÁRIO
Valor de produção: US$ 250 milhões
Final de semana de estreia (USA): US$ 29,210 milhões
Arrecadação até agora EUA: US$ 72 milhões (em cartaz)
O REINO ESCONDIDO
Valor de produção: US$ 100 milhões
Final de semana de estreia (USA): US$ 33,531 milhões
Arrecadação total EUA: US$ 105 milhões
CÍRCULO DE FOGO
Valor de produção: US$ 180 milhões
Final de semana de estreia (USA): US$ 37,285 milhões
Arrecadação até agora: EUA: US$ 37,285 (em cartaz)
R.I.P.D
Valor de produção: US$ 130 milhões
Final de semana de estreia (USA): US$ 12,691 milhões
Arrecadação até agora: EUA: US$ 12,691 milhões (em cartaz)
TURBO
Valor de produção: US$ 135 milhões
Final de semana de estreia (USA): US$ 21,312 milhões
Arrecadação até agora: EUA: US$ 31,015 milhões (em cartaz)
Por Marcos Vieira
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