Pages

sexta-feira, 16 de maio de 2014

NoCinema: GODZILLA

Godzilla/EUA
Ano: 2014 - Dirigido por: Gareth Edwards
Elenco: Bryan Cranston, Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe

NOTA: «««««

Sinopse: Joe Brody (Bryan Cranston) criou o filho sozinho após a morte da esposa (Juliette Binoche) em um acidente na usina nuclear em que ambos trabalhavam, no Japão. Ele nunca aceitou a catástrofe e quinze anos depois continua remoendo o acontecido, tentando encontrar alguma explicação. Ford Brody (Aaron Taylor-Johnson), agora adulto, é soldado do exército americano e precisa lutar desesperadamente para salvar a população mundial - e em especial sua família - do gigantesco, inabalável e incrivelmente assustador monstro Godzilla.


Godzilla apareceu pela primeira vez em 1954 no filme japonês de mesmo nome, exemplificando o medo de uma nação que se reerguia das cinzas após a Segunda Guerra Mundial, principalmente depois das bombas nucleares em Hiroshima e Nagazaki. A metáfora do monstro destruindo cidades e sendo uma força incontrolável para o homem é o conceito desse ser (EUA?) que chega sem avisos trazendo consigo a destruição e a morte. Obviamente que com os anos tal conceito foi se diluindo, e o personagem foi ganhando filmes cada vez mais voltados para o entretenimento e a catarse, com Godzilla enfrentando outros tipos de monstros em duelos que levavam, principalmente, o público japonês ao delírio. 

Em 1998 a criatura ganha sua versão ocidental com Hollywood transformando o bicho numa força de destruição em massa dentro de um filme equivocado que colocava a criatura se escondendo pelos esgotos de Nova York (???), assexuada e mais semelhante com um dinossauro do que com a forma original que lhe foi concebida. Sem falar do típico romance agridoce comum no cinema norte-americano que tornava ainda mais tediosa a experiência. 


Após 16 anos o monstro japonês ganha sua segunda adaptação ocidental para as telonas agora bebendo da fonte original e se preocupando com o impacto de um ser como Godzilla à solta no mundo. O diretor Gareth Edwards (que ganhou notoriedade com o belo “Monsters”) e os roteiristas David Callaham, David S. Goyer e Max Borenstein, colocam Godzilla como a força da natureza que ele é e, diferente do filme de 1998, criam uma abordagem mais realista de como reagiria a humanidade diante de tal força. 

Inserindo outros dois monstros chamados de MUTO (Massive Unidentified Terrestrial Organisms, ou “organismo terrestre gigante não identificado”), também alimentados pela radioatividade e há muitos anos hibernados, Callaham, Goyer, Borenstein e Edwards os usa como animais que agem através dos seus instintos dentro de um mundo que cresceu sem o conhecimento da sua existência (exceto, claro, o governo). Os dois seres acordam e partem em busca um do outro na natural intenção de se acasalarem. Godzilla aparece como o balanço dessa natureza, como o predador presente ali para impor sua dominação. Uma natural disputa de espécies. O clico da vida de criaturas que, quando dominavam toda a terra milhares de anos atrás num período em que a radiação era alta na superfície, tais confrontos era natural. 


Já o ser humano aparece como o intruso dentro desse conflito. Enquanto os bichos estão agindo por instinto e pouco se preocupando com os seres desprezíveis que somos, a raça humana precisa conviver com as consequências da disputa entre eles e buscar se adaptar nesse “novo” mundo. Somos telespectadores. E assistindo a destruição ocasionada pelas criaturas, dispomos de todo o nosso armamento para conter essa força da natureza. Em certo momento um dos personagens fala: “É um erro do homem pensar que ele é capaz de controlar a natureza, e não o contrário”, e isso é justamente a base de todo o conceito deste novo filme. 

É o exemplo dos seres humanos e as formigas. Nós seríamos os monstros, os “godzillas”, enquanto as formigas seríam os humanos buscando sobreviver num mundo tomado por gigantes. No caso do filme, a gente se encaixaria no papel das formigas. 


Mas obviamente que, se a história busca esse lado mais humano e realista, é claro que teremos um drama familiar para criar essa ponte de contato do público com os desastres decorrentes. A ideia é ótima, porém, infelizmente, o roteiro deixa de aproveitar os personagens mais interessantes para focar na típica situação clichê do herói de ação com a família separada tentando sobreviver para no final se reencontrarem novamente. 

Bryan Cranston (nosso Walter White/Heisenberg da série “Breaking Bad”) e Ken Watanabe interpretam aqueles que seria os personagens mais fortes do filme. O primeiro trabalha numa usina nuclear, perde a esposa quando acontece um aparente “terremoto” na usina, cria o filho sozinho, mas nunca deixou de acreditar que todo o ocorrido foi muito mais do que o governo divulgou. E Ken Watanabe interpreta um estudioso sobre tais seres gigantes que habitaram a Terra anos atrás. Final da história? Cranston é descartado rapidamente sendo usado como gancho para o seu filho, interpretado pelo jovem Aaron Taylor-Johnson assumir o filme e encarnar o herói de ação com a família dividida, e Watanabe se resume como o sujeito que vai explicar tudo que está acontecendo para a plateia, e é usado unicamente para isso e nada mais. Daí, voltamos a falar de Aaron Taylor-Johnson novamente que pouco se destaca, mais ainda assim ganha o filme para si nos momentos “humanos”. Resultado final? Você pouco se importa com ele! 


Entretanto, este “Godzilla” de Gareth Edwards, felizmente, abraça a ação no ato final e se entrega ao espetáculo mostrando um forte confronto entre Godzilla e os MUTO. A beleza e perfeição dos efeitos é inegável, assim como a fotografia e a ótima construção das cenas criando grande empolgação no público. E o mais bacana de tudo isso é que o Godzilla no filme, apesar de acharmos que será o grande vilão, na realidade, é colocado como o herói da humanidade estando ali para combater os outros monstros. Devido a sutileza do diretor Gareth Edwards, que já conseguiu trazer humanidade a monstros na estupenda cena final de “Monsters”, aqui repete o feito com o Godzilla, conseguindo fazer com que o público torça, se identifique e se emocione com ele. 

Uma obra com falhas e deslizes, porém, extremamente competente em seus outros aspectos, “Godzilla” é um filme que não só respeita o material original japonês, como consegue trazer certa humanidade a um ser que todos olham como vilão. E repito: a luta final é espetacular e memorável! Vale a pena!

Comentário por Matheus C. Vilela 

0 comentários: