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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O ATENTADO

The Attack-ISRAEL
Ano: 2013 - Dirigido por: Ziad Doueiri
Elenco: Ali Suliman, Karim Saleh, Uri Gavriel

NOTA: ««««« 

Sinopse: Na fita estamos num restaurante cheio em Telavive, local onde uma mulher faz explodir a bomba que dissimulava debaixo da sua túnica de grávida. Durante todo o dia, o doutor Amine, um palestiniano, opera em cadeia as inumeráveis vítimas desse atentado, mas mais tarde terá o conhecimento que o bombista suicida foi a sua própria mulher. O médico parte então numa busca sem tréguas pelos responsáveis.



Baseado no Best-seller de Yasmina Khadra, nascido na Algéria e cujos trabalhos são recheados de forte teor político e de revolta contra os inúmeros conflitos que colocam em risco a vida de milhões de inocentes, este “O Atentado”, baseado em “The Attack”, aborda o conflito interminável entre árabes e judeus partindo do momento que a esposa de um medido árabe chamado Amine, residente em Tel Avive, Israel, se mata explodindo uma bomba em um restaurante da cidade matando 17 pessoas, deixando 8 mutilados e inúmeros feridos. 

A questão é que Amine não sabia das inclinações políticas da esposa e é pego de surpresa pela noticia. De inicio, o médico exita em acreditar alegando ser tudo uma farsa, até o instante em que acha uma carta deixada pela mulher o que faz mudar totalmente o seu ponto de vista, levando-o até o território árabe para descobrir quem foram os responsáveis por fazer tal “lavagem cerebral” na esposa. 


Um conflito antigo e muito longe de ter fim, “O Atentado” faz questão de apresentar essa diferença social entre os dois povos. Antes do atentado, Amine havia recebido um prêmio pelo trabalho e agradecia ao povo de Israel pela acolhida, até o instante que descobrem ser sua esposa responsável pela explosão o que o faz ser duramente perseguido. Já, no outro lado, sua mulher é adorada por todos e vista como um símbolo de coragem e luta pela recuperação da terra. Como exemplifica a frase dita pelo mentor dos atentados: “O homem órfão não é o homem sem pai, mas o homem sem pátria!”, “O Atentado” traz brilhantemente esse estudo sobre a dura realidade entre árabes e judeus, e intercala com o drama do protagonista pela perda da esposa e a inconformação do porque alguém é capaz de se matar para matar outras pessoas. 

Aliás, Amine representa esse ponto de equilíbrio entre os dois povos. Um árabe residente em Israel, com passaporte e tudo, acredita na convivência pacifica entre os dois povos e não enxerga objetivo sólido para tantas mortes em decorrência de uma terra que poderia ser habitada por todos. O diretor libanês Ziad Doueiri faz um filmaço, só derrapa quando opta pelo velho artifício de mostrar a instabilidade do protagonista vendo e conversando com a esposa morta, o que é clichê e pouco surpreendente, mas, ainda assim, “O Atentado” é um desses filmes para se assistir e guardar no coração. Um olhar crítico que nunca se mostra a favor de nenhum dos lados, mas sim, a favor da vida e união dos povos. Vale a pena!

Comentário por Matheus C. Vilela

SOBRENATURAL: CAPÍTULO 2

Insidious: Chapter 2-EUA
Ano: 2013 - Dirigido por: James Wan
Elenco: Patrick Wilson, Rose Byrne, Barbara Hershey

NOTA: ««««« 

Sinopse: A família Lambert, formada por Josh (Patrick Wilson), Renai (Rose Byrne) e Dalton (Ty Simpkins), volta a lidar com uma série de problemas sobrenaturais. Dirigido por James Wan, o longa mostrará o destino da família em relação ao final do primeiro filme. Sequência de Sobrenatural (2010).


O diretor James Wan começou com “Jogos Mortais” e investiu no gênero de terror até este novo “Sobrenatural: Capítulo 2”, que diz ser o seu último filme do gênero por desejar novos ares, tanto que já foi contratado para comandar o próximo “Velozes e Furiosos”. Wan, como pouquíssimos diretores hoje em dia, conseguiu criar uma carreira sólida dentro de um gênero muito mal valorizado pelo cinema atual. Através de filmes como “Sobrenatural” e, principalmente, “Invocação do Mal”, o seu melhor trabalho até aqui, o diretor mostrou haver sim possibilidades de se fazer um filme assustador apostando no subconsciente do público e em um ótimo desenvolvimento. 

O primeiro “Sobrenatural”, lançado em 2010, trazia aquele espírito oitentista do cinema de terror e uma história cujo desenvolvimento era eficiente e assustador. Wan soube explorar o ambiente e fazer dos cenários importantes personagens da obra, e sem nunca mostrar o que de fato existia ali, ficávamos intrigados e mais ainda temerosos com o que poderia acontecer. 


Obviamente que o filme derrapa justamente quando decide mostrar demais, mesmo problema visto no final de “Invocação do Mal”, diminuindo toda aquela tensão guardada ao longo do filme. E isso, infelizmente, se repete com mais freqüência nesta continuação intitulada “Sobrenatural: Capítulo 2”. 

O filme esclarece os elementos abordados no anterior, voltando no tempo mostrando a infância do protagonista interpretado por Patrick Wilson e como e o porquê da tal identidade o ter escolhido quando criança. O filme se passa instantes após o final do primeiro, mas diferente do longa de 2010, esta continuação transforma toda a história em um exemplar de aventura e não temos cenas memoráveis e pouquíssimos momentos inspirados. 


Infelizmente “Sobrenatural: Capítulo 2” passa longe de ter a competência do seu anterior e muito menos do talento mostrado por James Wan ao longo desses anos. Teremos um terceiro, já confirmado, e espero que o novo diretor aproveite a nova história e os novos personagens para recuperar esse tom assustador de mostrar pouco, e deixar nossa mente vagar imaginando o que existe ali. Fraco!

Comentário por Matheus C. Vilela

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Series: THE NEWSROOM - 1ª e 2ª temporada

The Newsroom 1ª e 2ª temporada - EUA
Total de episódios: 1ª-10 ep. / 2ª-09 ep.
Ano: 2012/2013
Elenco: Jeff Daniels, Emily Mortimer,John Gallagher Jr., Alison Pil, Thamas Sadoski, Olivia Munn, Sam Waterston e Dev Patel.


NOTA: 

1ª temporada: ««««« 
2ª temporada: «««««


A televisão hoje está sendo o “campus acadêmico” dos profissionais mais requisitados do mercado norte-americano. Não encontrando espaço na mídia cinematográfica para projetos menores, esse é um assunto que vamos falar em outro momento, a telinha vem vivendo os seus anos dourados com produções cada vez mais requintadas e com uma qualidade digna de cinema. 

Este “The Newsroom”, produzida pela HBO, é mais um exemplo desse padrão de qualidade e entra no hall dos melhores seriados atualmente em exibição. Acompanhando os bastidores do The News Night, programa jornalístico apresentado pelo segundo mais importante âncora da TV paga Will McAvoy (Jeff Daniels), a série foi criada e escrita por Aaron Sorkin, um dos melhores roteiristas em atividade nos Estados Unidos, que escreveu o excelente “A Rede Social” e está encarregado de adaptar para o cinema o livro biográfico de Steve Jobs, filme previsto para ano que vêm. 


Muito mais do que meramente apresentar os bastidores de um jornal televiso, que por sinal Aaron Sorkin faz muito bem passando a veracidade daquela realidade movimentada e extremamente influente, “The Newsroom” também se preocupa com os seus personagens e cria tramas que acompanham a vida pessoal de cada um. Os interesses românticos que surgirão ao longo do tempo, as desilusões e ressentimentos do passado marcados até hoje, principalmente na vida do protagonista Will McAvoy com sua produtora MacKenzie McHale. 

No entanto, quem conhece o estilo de Aaron Sorkin sabe que ele não é um roteirista melodramático e não costuma deixar o romance ser o foco da história. O pessoal de cada personagem está ali, mas o essencial é manter o foco nos bastidores do jornal, e nunca o pessoal de cada um se sobressai ao profissional. Tais tramas são extremamente orgânicas e críveis, nos identificamos com elas, torcemos pelos personagens e vibramos com o cotidiano corrido de um jornal recriado com maestria pela série. 


Outro quesito que Aaron Sorkin faz questão de abordar é como esse meio também pode ter sua dose de riscos. Em um mundo onde você lida com informações, a menor delas, ou aquela aparentemente sem importância são capazes de causar grandes tempestades se passadas incorretamente. Um exemplo é quando, na segunda temporada, a equipe de Will McAvoy vem trabalhando num caso de armas químicas usadas pelos Estados Unidos em civis. Sem abrir mais nada, você já deve imaginar a bomba que a equipe tem nas mãos lidando com uma acusação tão séria que põe em risco a política humanitária norte-americana. 

O elenco não poderia estar melhor. Mais a vontade na segunda temporada, Jeff Daniels é um arraso como o âncora Will McAvoy. Nitidamente um sujeito que aprendeu, ao longo dos episódios, a dar valor na sua equipe, o amadurecimento de Will é visível e Daniels abraça as nuances de seu personagem com gosto e injeta sua habitual simpatia fazendo de Will uma pessoa importante e amada pelo público. Emily Mortimer, que confesso nunca ter me atraído como atriz, me surpreendeu na série e me ensinou a apreciá-la. Sem dúvida a atriz está em um ótimo momento e sua química com Daniels é extasiante. Os demais atores, como John Gallagher Jr., Alison Pil, Thamas Sadoski, Olivia Munn, Sam Waterston e Dev Patel completam esse elenco magistral comprovando a existência de ótimos profissionais em Hollywood, basta apensa aproveitar o talento de cada um no projeto certo. E ainda temos uma participação fervorosa de Jane Fonda como a dona da emissora ACN que transmite o "The News Night".


A terceira temporada está prevista para ano que vêm e já fica a dica de uma série competente em construir sua história, em desenvolver seus personagens e nos apresentar esse mundo da comunicação de maneira tão empolgante e emocionante. Uma série prioritária principalmente para os futuros jornalistas.

Comentário por Matheus C. Vilela

terça-feira, 19 de novembro de 2013

BLUE JASMINE

Blue Jasmine-EUA
Ano: 2013 - Dirigido por: Woody Allen
Elenco: Cate Blanchett, Alec Baldwin, Sally Hawkins

NOTA: «««««

Sinopse: Uma mulher rica (Cate Blanchett) perde todo seu dinheiro e é obrigada a morar em São Francisco com sua irmã (Sally Hawkins), em uma casa muito mais modesta. Ela acaba encontrando um homem (Alec Baldwin) na Bay Area que pode resolver seus problemas financeiros, mas antes ela precisa descobrir quem ela é, e precisa aceitar que São Francisco será sua nova casa.



Woody Allen é sem dúvida um dos grandes roteiristas norte-americanos da história. Sisudo, melancólico, pragmático, pessimista e um notável apreciador das artes, seus filmes vão passeando por esses adjetivos tão marcantes em sua carreira. Depois do elogiado “Meia Noite em Paris” em 2011, sucesso de crítica e a maior bilheteria de sua carreira, Allen volta ao tom céptico demonstrando total repugnância pela classe média baixa em um filme com uma das protagonistas mais apáticas de todos os seus filmes, e, surpreendentemente, uma das mais marcantes. 

O trabalho de Allen ou você gosta ou você odeia. Não é um diretor que geralmente agrada o grande público, e concordo com a opinião de alguns que parte de seus filmes possui uma pegada tão negativa em relação ao mundo e as pessoas que saímos com o mesmo sentimento detestável que o diretor nos coloca. Prefiro quando Allen embarca em temas românticos misturados com fantasia gerando obras primas como “A Rosa Púrpura do Cairo” e o já citado “Meia Noite em Paris”. Ou quando resolve levar tudo na brincadeira com seu humor crítico e alegórico em filmes como “Desconstruindo Harry” e “Tudo Que Você Gostaria de Saber Sobre Sexo e Tinha Medo de Perguntar”. 


Neste “Blue Jasmine” acompanhamos a história de Jasmine, uma mulher rica, bem vestida, casada com um milionário do ramo imobiliário (Alec Badwin), até que, seu marido é preso por fraude e se enforca na prisão. Jasmine, então, perde toda a vida de luxo que tinha é vai morar com a irmã Ginger em São Francisco, uma atendente de supermercado cuja vida é totalmente o oposto do que Jasmine estava acostumada. 

Como é um filme de Woody Allen, portanto, não temos o sentimentalismo costumeiro dos dramas de Hollywood em torna da protagonista, mostrando o seu amadurecimento e mudança de caráter diante da situação. Nada disso! Jasmine é ofensiva nas suas palavras e não esconde o seu desgosto com a vida humilde da irmã e os homens com quem se relaciona. Com o tempo, depois de perder o mundo de luxúria, a personagem busca reviver seus dias de glória imaginando momentos importantes de sua antiga vida trazendo isso para o presente. Começa a falar sozinha na rua imaginando ainda possuir todo o glamour de antes, e busca incansavelmente um homem capaz de prover suas necessidades. 


Esse narcisismo exacerbado da personagem, infelizmente, é a realidade de muitas pessoas, e suas atitudes, além de interferir na vida de quem está ao seu lado, se voltará principalmente para ela, deteriorando mais ainda o seu estado mental e tornando-a uma pessoa cada vez mais sozinha e infeliz, quebrada por dentro e desesperada para encontrar a “paz” no conforto que o dinheiro é capaz de proporcionar. 

Mas o destaque de “Blue Jasmine” dessa vez não é Woody Allen, mas Cate Blanchett. A atriz é o corpo, a alma e tudo do que há de mais interessante na obra. Embarcando sem medo nessa personagem difícil, a atriz sustenta o filme injetando, por incrível que pareça, uma simpatia latente que nos faz se interessar mais por sua pessoa, e traz uma leveza que ameniza a mão pesada de Allen. Forte candidata ao Oscar, Blanchett merece levar o prêmio, dessa vez de protagonista, por um filme que, por causa dela, se torna uma experiência consistente e interessante. 


Claro que Woody Allen possui os seus méritos, mas vejo em “Blue Jasmine” um grande potencial para emocionar. Há momentos que se Allen optasse por um pouco mais de humanismo seriam inesquecíveis, e isso sem precisar mudar o destino infeliz de sua protagonista. Outro ponto que me incomodou, nesse caso, foi à trilha sonora de jazz tão comum nas obras do diretor. Só que em “Blue Jasmine” não combina com o peso dramático da história e só diminui o impacto que poderia causar em algumas cenas. 

Blue Jasmine” deveria se chamar “Blue Cate”, ou “Blue Blanchett”, pois a atriz não só faz uma das melhores atuações de sua carreira, como é o filme. Dessa vez, Woody Allen ficou de escanteio e é Cate Blanchett quem imprime sua marca.

Comentário por Matheus C. Vilela

sábado, 16 de novembro de 2013

JOGOS VORAZES: EM CHAMAS

The Hunger Games: Catching Fire-EUA
Ano: 2013 - Dirigido por: Francis Lawrence
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth

NOTA: «««««

Sinopse: Este é o segundo volume da trilogia Jogos Vorazes, baseada nos romances de Suzanne Collins. A saga relata a aventura de Katniss (Jennifer Lawrence), jovem escolhida para participar aos "jogos vorazes", espécie de reality show em que um adolescente de cada distrito de Panem, considerado como "tributo", deve lutar com os demais até que apenas um saia vivo. Neste segundo episódio da série, após a afronta de Katniss à organização dos jogos, ela deverá enfrentar a forte represália do governo local, lutando não apenas por sua vida, mas por toda a população de Panem.


Com um orçamento de modestos US$ 78 milhões, ano passado fomos surpreendidos com um competente filme chamado “Jogos Vorazes”, que trazia não só pitadas de romance e um conceito político ainda muito recente e debatido com frequência ao longo do curso da humanidade, como também o filme dirigido por Gary Ross conseguiu apresentar uma maturidade muito além das demais obras infanto-juvenis adaptadas para o cinema depois do estouro de “Crepúsculo”, e do impulso tido, anteriormente, com Harry Potter, que abriu as portas. 

Agora com um custo de US$ 140 milhões e a direção do excelente Francis Lawrence, um diretor consistente que fez filmes ótimos como “Eu Sou A Lenda” e “Água Para Elefantes”, que gosto muito, Lawrence, digamos, foi o David Yates da franquia Jogos Vorazes. Assim como Yates entendeu o espírito da saga Harry Potter e amadureceu os filmes trazendo a essência do desespero diante de uma ameaça eminente, Lawrence melhora e muito o que Gary Ross construiu no primeiro filme, e cria um ritmo angustiante e um clima de desespero e desolação. Sentimos o cerco se fechando e a notável desarmonia entre a Capital e os distritos, e como aquele mundo vêm se contraindo com mais frequência a medida em que os poderosos usam seus poderes para retrair e impedir a revolta do povo. 


Dentro de um contexto que sempre esteve presente ao longo da história da humanidade, de Estados políticos impondo suas vontades sobre uma maioria desprivilegiada e mantida refém do sistema, este “Jogos Vorazes: Em Chamas” explora afundo esse contexto político da trama. Num mundo onde estamos presenciando inúmeras revoltas de cidadãos contra seus representantes e todas as atrocidades cometidas por eles, o filme traz algo muito além do que mero entretenimento e uma discussão válida sobre sociedade e o desejo de não aceitar a imposição da burguesia. 

Nas cenas que se passam nos distritos a fotografia cinza de Joe Willems ressalta esse mundo hostil e amargurado, de anos vivendo sem dignidade e liberdade. Em contra partida, quando estamos na Capital, note que a fotografia muda trazendo uma coloração mais amarelada ressaltando a sociedade consumista regada a festas e privilégios. Detalhes, aliás, acentuados pelo figurino criado pela figurinista Trish Summerville, que faz um trabalho exímio entre a excentricidade nas roupas extravagantes dos ricos e a simplicidade e desgaste nas vestimentas dos considerados inferiores. 


Outro ponto forte de “Jogos Vorazes”, desde o anterior, é o ótimo elenco. Jennifer Lawrence continua ótima e apresenta uma performance ainda melhor e mais tocante que no primeiro. Sua química com Josh Hutcherson é notável, e ambos convencem não só com a situação em que se encontram, como dos sentimentos de um pelo outro. O elenco de apoio também não é por menos, já que temos presenças fortes de Donald Sutherland e Philip Seymour Hoffman. 

Como todo filme do meio, obviamente “Jogos Vorazes: Em Chamas” termina deixando muita coisa para os próximos que virão. O último livro, “A Esperança”, será dividido em dois filmes (afinal, a moda pegou!) e desde que continue com essa mesma qualidade, até gosto da ideia. Melhor que o anterior, que já era muito bom, “Em Chamas” prepara o caminho para um final épico e emocionante. Que venha 2014 e 2015!

Comentário por Matheus C. Vilela

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

CAPITÃO PHILLIPS

Captain Phillips-EUA
Ano: 2013 - Dirigido por: Paul Greengrass
Elenco: Tom Hanks, Barkhad Abdi, David Warshofsky

NOTA: «««««

Sinopse: Richard Phillips (Tom Hanks) é um comandante naval experiente, que aceita trabalhar com uma nova equipe na missão de entregar mercadorias e alimentos para o povo somaliano. Logo no início do trajeto, ele recebe a mensagem de que piratas têm atuado com frequência nos mares por onde devem passar. A situação não demora a se concretizar, quando dois barcos chegam perto do cargueiro, com oito somalianos armados, exigindo todo o dinheiro a bordo. Uma estratégia inicial faz com que os agressores recuem, apenas para retornar no dia seguinte. Embora Phillips utilize todos os procedimentos possíveis para dispersar os inimigos, eles conseguem subir à bordo, ameaçando a vida de todos. Quando pensa ter conseguido negociar com os piratas, o comandante é levado como refém em um pequeno bote. Começa uma longa e tensa negociação entre os sequestradores e os serviços especiais americanos, para tentar salvar o capitão antes que seja tarde.


Richard Phillips, capitão do navio cargueiro Maersk Alabama em 2009, viu o seu barco ser tomado por piratas somalis na costa da Somália e sua vida correr risco após, depois de horas sob forte pressão dentro do navio, ser levado como refém pelos piratas dentro de  um baleeiro. Phillips sobreviveu e sua história rendeu um livro de memórias em 2010 chamado “Richard Phillips A Captain´s Duty”

Dirigido por um diretor excelente chamado Paul Greengrass, que dirigiu “Identidade Bourne” e mudou os rumos do cinema consolidando um estilo singular de filmagem e desenvolvimento, em “Capitão Phillips”, Greengrass vai muito além de criar apenas um filme intenso e empolgante. A obra são duas horas e quinze de pura tensão e agonia devido a eficiente direção, acompanhada de uma trilha forimponente, mas, muito mais do que isso, a obra se aproveita de sua trama para apresentar a forte desigualdade entre duas nações, e a realidade cruel que leva muitos somalis, desde pequenos, a se enveredarem na vida de crimes e pirataria. 


A Somália hoje é um dos polos mais poderosos de pirataria no mundo, interferindo em mais de 18 bilhões de dólares em aumento de preços no comércio. Sem um governo central solidificado e a sociedade a mercê do destino, a grande maioria dos cidadãos são obrigados, pelas circunstâncias, a aderirem a prática da pirataria. De 2005 pra cá mais de 179 barcos foram sequestrados e em torno de 85% liberados após pagamento de resgates. Temos determinada cena, muito interessante, onde o capitão Phillips, refém dentro do baleeiro com os piratas, conversando com eles, pergunta para o líder se não existe outra maneira de um ser humano sobreviver sem precisar de pescaria e pirataria, o somali responde com um tom de voz desesperançoso “Talvez na América, capitão! Talvez na América!”

Fugindo de cair no patriotismo norte-americano, porque eles são e muitos, Paul Greengrass, portanto, faz um filme que mescla muito bem seu clímax ininterrupto, porque a tensão em “Capitão Phillips” não para, com um olhar observador e crítico com a situação não só dos somalis, mas da situação precária presente na grande maioria dos países africanos. Focando nas desproporções dos somalis para com os norte-americanos, desde a câmera aberta pegando os enormes navios da marinha americana e o minúsculo baleeiro comandado pelos piratas, até as desproporções físicas dos seus corpos magérrimos em contraste com o porte físico forte e malhado dos soldados americanos. Abordagens frequentes do diretor que servem para confirmar a desigualdade entre esses dois mundos, o que por fim, coloca em cheque a politica de “igualdade” pregada pelos Estados Unidos numa decisão aprovada pela própria Casa Branca de salvar o capitão Phillips utilizando-se de qualquer artificio, inclusive a morte. 


Agora que prazer poder elogiar Tom Hanks novamente depois de anos sem uma atuação memorável do ator. Desde “Naufrago”, posso dizer que Hanks não mostrava nada de surpreendente. Forte candidato ao Oscar do ano que vêm quem sabe o astro não se junta a Jack Nicholson e Daniel Day-Lewis no hall dos atores com três estatuetas em casa? Com uma atuação que vai crescendo com o filme até chegar a um final emocionante, Tom Hanks é tão intenso quanto Greengrass, e nos brinda com uma de suas melhores interpretações na carreira. 

Outro destaque é o estreante Barkhad Abdi. Cidadão somali e sem nunca ter atuado antes, Abdi encarna o líder dos piratas com um fervor e vontade agonizantes. Ao mesmo tempo em que mostra ter equilíbrio em algumas certas, consegue criar uma figura imprevisível e ameaçadora, fruto de um país sem ordem ou estabilidade, e vítima de uma realidade cruel. 


Intenso, empolgante, angustiante, reflexivo e incessante, “Capitão Phillips” é um exemplo soberbo do que há de melhor no cinema de Paul Greengrass. E só de trazer Tom Hanks do mundo dos atores acomodados é um prazer tão marcante quanto assistir ao filme. Um dos melhores desse ano! Vale a pena!

Comentário por Matheus C. Vilela

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

THOR - O MUNDO SOMBRIO

Thor: The Dark World-EUA
Ano: 2013 - Dirigido por: Alan Taylor
Elenco: Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Natalie Portman

NOTA: «««««

Sinopse: Depois dos acontecimentos de Thor e Os Vingadores, Thor luta para restaurar o equilíbrio em todo o cosmo, mas uma raça antiga liderada pelo vingativo Malekith retorna para afundar novamente o universo em escuridão. Diante de um rival que sequer Odin ou qualquer asgardiano pode enfrentar, Thor embarca em sua jornada mais perigosa e pessoal até agora, que o reunirá com Jane Foster e o forçará a sacrificar tudo para proteger a todos nós.


Altamente superior ao primeiro filme em praticamente todos os sentidos, este “Thor – O Mundo Sombrio” renova o tom banal e barato do antecessor trazendo não só maior profundidade ao protagonista, como também cenas de ação dignas do poderoso personagem. 

Dirigido agora por Alan Taylor, que vêm de séries como “A Família Soprano”, “Mad Men” e mais recentemente “Game of Thrones”, o diretor mostra criatividade e domínio cênico. Criando cenas de ação no melhor estilo medieval lembrando e muito “O Senhor dos Anéis”, e perseguições áreas que remetem bastante às criadas na saga “Star Wars”, “Thor – O Mundo Sombrio”, ainda assim, não soa repetitivo ou sem originalidade. Taylor cria momentos empolgantes e aproveita o melhor de seus personagens em disputas acompanhadas de uma belíssima estética e efeitos visuais competentes. 


Outro detalhe inegável neste filme é o domínio narrativo. O roteiro escrito por Christopher Yost, Christopher Markus e Stephen McFeely é equilibrado e intercala sem exageros a ação, o romance e o humor, diferente do primeiro filme onde tudo é desencontrado e mal construído. E os três roteiristas não caem no pecado de “O Homem de Aço”, que mesmo considerando um ótimo filme, peca pelo final exagerado e frenético que beira o cansativo. O domínio cênico do diretor Alan Taylor condensa todas essas qualidades transformando “Thor – O Mundo Sombrio” em um dos melhores entretenimentos já feitos pela Marvel. Dos filmes solo, este segundo Thor, depois do ainda imbatível “Homem de Ferro” de 2008, é o mais eficiente. 

Obviamente que há aquelas abordagens desnecessárias existentes unicamente por exigência do estúdio. A mocinha Jane (Natalie Portman) ser uma peça fundamental para o interesse do vilão por possuir algo de seu interesse é descartável, assim como sua ida para Asgard, que no fim, se confirma uma escolha equivocada o que leva Thor a trazê-la para a Terra novamente. 


Terceira vez encarnando o “deus do trovão”, Chris Hemsworth, de fato, se encaixa perfeitamente no papel. Além de ter o físico, o ator é simpático e cativante, e junto com um bom roteiro, sua atuação como Thor é ainda mais delineada. No entanto, quem rouba a cena, mais uma vez por assim dizer, é o ótimo Tom Hiddleston como Loki. Agindo do lado do herói nesta continuação, mas sem deixar de escanteio os seus reais interesses, Hiddleston encarna com fervor e entusiasmo Loki, e é dele vários dos bons momentos e a grande surpresa da trama. Sua química com Hemsworth não poderia estar melhor rendendo momentos de puro deleite. 

Após as decepções causadas por “Homem de Ferro 3” no inicio deste ano, “Thor – O Mundo Sombrio” reacende nosso ânimo para essa segunda fase do universo Marvel. E que venha o terceiro Thor! Vale a pena!

Comentário por Matheus C. Vilela

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

AMOR BANDIDO

Mud-EUA
Ano: 2012 - Dirigido por: Jeff Nichols
Elenco: Matthew McConaughey, Tye Sheridan, Reese Witherspoon

NOTA: «««««

Sinopse: Ellis (Tye Sheridan) e Neckbone (Jacob Lofland) são grandes amigos que decidem desbravar uma ilha que fica no rio próximo às suas casas. Lá eles encontram Mud (Matthew McConaughey), um homem foragido que tem vivido em um barco preso nos galhos de uma árvore. Apesar da desconfiança inicial, os garotos resolvem ajudar Mud em seus planos ao saber que ele está à espera de Juniper (Reese Witherspoon), o grande amor de sua vida, que se envolveu com o homem errado.


O Brasil consegue se superar cada vez mais nas traduções de filmes. Sem usar exemplos do passado, vamos nos ater apenas a este “Amor Bandido”! Sério? Amor Bandido? Além de oferecer uma imagem distorcida sobre o estilo do filme, o nome tira toda e qualquer seriedade do que a obra é. Daí muitos não gostam por que vão assistir pensando ser uma comédia romântica daquelas que a Jennifer Aniston gosta de fazer, sendo que “Mud”, como é chamado no original, passa longe disso. Por isso, me recuso a chamar o filme de “Amor Bandido” e vou me ater apenas ao nome original “Mud”. 

Pois bem, fora o erro grotesco de tradução, que não é culpa do filme, “Mud” é uma daquelas surpresas que pega a gente desprevenido e nos presenteia com algo não só interessante de se assistir, como inesquecível. 


Na história, um garoto de 14 anos do Arkansas chamado Ellis (Tye Sheridan), junto com o seu melhor amigo Neckbone (Jacob Lofland), decide pegar um barco e partir rumo a uma ilha isolada da sua cidade por pura curiosidade. Lá, encontram Mud (Matthew McConauguey), um sujeito misterioso que mora dentro de um barco preso numa árvore e diz estar esperando para se encontrar com o amor da sua vida. 

Inicialmente soa esquisito e improvável alguém esperar outra pessoa no meio de uma floresta sem recursos. Mas aí que se encontra as surpresas do filme onde vamos conhecer com o decorrer da trama as verdadeiras razões da presença de Mud naquele lugar e como isso vai afetar Ellis e Neckbone. 


Dirigido por Jeff Nichols, que estreou como diretor dois anos atrás com o angustiante “O Abrigo” estrelado por Michael Shannon, Nichols nos traz um retrato dos sonhos, da força da amizade e do amadurecimento. O inicio lento e sem apresentar muita coisa se desenrola mostrando que a realidade adulta é algo muito mais complicado do que a visão simplista de uma criança. E que muitas vezes o melhor a se fazer é encarar a realidade. 

“Mud” não possui maniqueísmos que buscam levar o público às lágrimas a qualquer custo, muito menos um drama forçado ou novelesco. Tudo é muito equilibrado e centrado nos personagens. O que impede o filme de ser ser espetacular é a decisão do roteiro de se aprofundar pouco em Mud. 


Matthew McConauguey, enfim, volta a investir em projetos que não sejam comédias românticas sofríveis como “Um Amor de Tesouro” ou “Armações do Amor”, e desde o excelente “O Poder e a Lei” em 2011, McConauguey vem numa sucessão de ótimos filmes como “Killer Joe – Matador de Aluguel”, “Bernie – Como Um Anjo” e agora este “Mud”, onde nos apresenta um tom mais dramático e angustiante de uma pessoa carregada de sentimentos ressentidos e decepções. 

Mas quem rouba a cena e encanta é o ator mirim Tye Sheridan, que já chamou a atenção em “A Árvore da Vida” do Terrence Malick, e aqui, não só apresenta um visível amadurecimento, como convence trazendo inocência mesclada com a dor. 


Mud” é um filme minucioso, leve e encantador. Uma experiência de descoberta e crescimento onde mostra que, na vida, há o momento de seguir em frente e crescer. Vale a pena!

Comentário por Matheus C. Vilela