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terça-feira, 19 de novembro de 2013

BLUE JASMINE

Blue Jasmine-EUA
Ano: 2013 - Dirigido por: Woody Allen
Elenco: Cate Blanchett, Alec Baldwin, Sally Hawkins

NOTA: «««««

Sinopse: Uma mulher rica (Cate Blanchett) perde todo seu dinheiro e é obrigada a morar em São Francisco com sua irmã (Sally Hawkins), em uma casa muito mais modesta. Ela acaba encontrando um homem (Alec Baldwin) na Bay Area que pode resolver seus problemas financeiros, mas antes ela precisa descobrir quem ela é, e precisa aceitar que São Francisco será sua nova casa.



Woody Allen é sem dúvida um dos grandes roteiristas norte-americanos da história. Sisudo, melancólico, pragmático, pessimista e um notável apreciador das artes, seus filmes vão passeando por esses adjetivos tão marcantes em sua carreira. Depois do elogiado “Meia Noite em Paris” em 2011, sucesso de crítica e a maior bilheteria de sua carreira, Allen volta ao tom céptico demonstrando total repugnância pela classe média baixa em um filme com uma das protagonistas mais apáticas de todos os seus filmes, e, surpreendentemente, uma das mais marcantes. 

O trabalho de Allen ou você gosta ou você odeia. Não é um diretor que geralmente agrada o grande público, e concordo com a opinião de alguns que parte de seus filmes possui uma pegada tão negativa em relação ao mundo e as pessoas que saímos com o mesmo sentimento detestável que o diretor nos coloca. Prefiro quando Allen embarca em temas românticos misturados com fantasia gerando obras primas como “A Rosa Púrpura do Cairo” e o já citado “Meia Noite em Paris”. Ou quando resolve levar tudo na brincadeira com seu humor crítico e alegórico em filmes como “Desconstruindo Harry” e “Tudo Que Você Gostaria de Saber Sobre Sexo e Tinha Medo de Perguntar”. 


Neste “Blue Jasmine” acompanhamos a história de Jasmine, uma mulher rica, bem vestida, casada com um milionário do ramo imobiliário (Alec Badwin), até que, seu marido é preso por fraude e se enforca na prisão. Jasmine, então, perde toda a vida de luxo que tinha é vai morar com a irmã Ginger em São Francisco, uma atendente de supermercado cuja vida é totalmente o oposto do que Jasmine estava acostumada. 

Como é um filme de Woody Allen, portanto, não temos o sentimentalismo costumeiro dos dramas de Hollywood em torna da protagonista, mostrando o seu amadurecimento e mudança de caráter diante da situação. Nada disso! Jasmine é ofensiva nas suas palavras e não esconde o seu desgosto com a vida humilde da irmã e os homens com quem se relaciona. Com o tempo, depois de perder o mundo de luxúria, a personagem busca reviver seus dias de glória imaginando momentos importantes de sua antiga vida trazendo isso para o presente. Começa a falar sozinha na rua imaginando ainda possuir todo o glamour de antes, e busca incansavelmente um homem capaz de prover suas necessidades. 


Esse narcisismo exacerbado da personagem, infelizmente, é a realidade de muitas pessoas, e suas atitudes, além de interferir na vida de quem está ao seu lado, se voltará principalmente para ela, deteriorando mais ainda o seu estado mental e tornando-a uma pessoa cada vez mais sozinha e infeliz, quebrada por dentro e desesperada para encontrar a “paz” no conforto que o dinheiro é capaz de proporcionar. 

Mas o destaque de “Blue Jasmine” dessa vez não é Woody Allen, mas Cate Blanchett. A atriz é o corpo, a alma e tudo do que há de mais interessante na obra. Embarcando sem medo nessa personagem difícil, a atriz sustenta o filme injetando, por incrível que pareça, uma simpatia latente que nos faz se interessar mais por sua pessoa, e traz uma leveza que ameniza a mão pesada de Allen. Forte candidata ao Oscar, Blanchett merece levar o prêmio, dessa vez de protagonista, por um filme que, por causa dela, se torna uma experiência consistente e interessante. 


Claro que Woody Allen possui os seus méritos, mas vejo em “Blue Jasmine” um grande potencial para emocionar. Há momentos que se Allen optasse por um pouco mais de humanismo seriam inesquecíveis, e isso sem precisar mudar o destino infeliz de sua protagonista. Outro ponto que me incomodou, nesse caso, foi à trilha sonora de jazz tão comum nas obras do diretor. Só que em “Blue Jasmine” não combina com o peso dramático da história e só diminui o impacto que poderia causar em algumas cenas. 

Blue Jasmine” deveria se chamar “Blue Cate”, ou “Blue Blanchett”, pois a atriz não só faz uma das melhores atuações de sua carreira, como é o filme. Dessa vez, Woody Allen ficou de escanteio e é Cate Blanchett quem imprime sua marca.

Comentário por Matheus C. Vilela

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