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sexta-feira, 30 de maio de 2014

NoCinema: MALÉVOLA

Maleficent/EUA
Ano: 2014 - Dirigido por: Robert Stromberg
Elenco: Angelina Jolie, Elle Fanning, Sharlto Copley

NOTA: «««««

Sinopse: Baseado no conto da Bela Adormecida, o filme conta a história de Malévola (Angelina Jolie), a protetora do reino dos Moors. Desde pequena, esta garota com chifres e asas mantém a paz entre dois reinos diferentes, até se apaixonar pelo garoto Stefan. Os dois iniciam um romance, mas Stefan tem a ambição de se tornar líder do reino vizinho, e abandona Malévola para conquistar seus planos. A garota torna-se uma mulher vingativa e amarga, que decide amaldiçoar a filha recém-nascida de Stefan, Aurora. Aos poucos, no entanto, Malévola começa a desenvolver sentimentos de amizade em relação à jovem e pura Aurora.


Estamos vivendo tempos onde a necessidade de algo novo no cinema é latente. Mas ao mesmo tempo entramos num paradoxo já que, esta mesma arte vem sofrendo um forte desgaste de criatividade apostando cada vez mais em remakes e reboots de filmes já existentes. Uma das principais sensações nos últimos anos está sendo adaptar os principais contos de fadas segundo, claro, os padrões da nova geração. Particularmente considero a ideia excelente. Passamos tantos anos sobre a sombra de uma única versão, aquele tom clássico e poético dos filmes da Disney de décadas atrás, que buscar novos ares e novas ideias dentro dessa mesma história é algo sempre bem-vindo e gratificante. Não necessariamente o motivo para filmes bons, mas a intenção, em si, é bastante válida. 

No caso deste “Malévola” a Disney busca seguir um caminho diferente. O foco central não é a princesa e muito menos sua história de amor verdadeiro e descobertas. Aqui o centro é a vilã. Ou talvez não necessariamente uma vilã. Clássica personagem do estúdio e de sua galeria de vilões, Malévola era temível e ameaçadora no desenho de 1959, uma das minhas vilãs preferidas dos filmes de princesas da Disney, por assim dizer. Uma figura imponente que não media esforços. A Malévola deste filme, interpretada por Angelina Jolie, mantém os elementos clássicos da personagem, mas com um fundo de humanidade. Aqui, conhecemos o que levou Malévola a se tornar uma pessoa obscura. Não temos a superficialidade de um típico vilão com risadas sinistras e frases de efeito, muito pelo contrário, no filme, a personagem é posta como alguém como qualquer outro, que soube amar, cuidar, se preocupar e ser justa, mas que no processo, foi machucada a tornando reclusa e solitária. Mas sem nunca deixar de, lá no fundo, ser a pessoa doce e humana que um dia foi.


Tudo isso me chamou mais atenção do que o lado fantástico da obra. Os vilões por si só fazem mais sucesso e são mais queridos pelo público por natureza. E cá entre nós, eles são os melhores sem dúvida! E fazer o público entender os sentimentos desse tipo de personagem, torcer por ele e se emocionar é um feito muitíssimo gratificante. Em “Malévola”, apesar dos problemas estruturais do seu roteiro que vou falar a seguir, consegue esse feito, e talvez um dos grandes méritos do filme, se não o maior deles, é ter Angelina Jolie encarnando esse papel. A atriz está muito mais do que se divertindo, mas se entrega de tal maneira, que traz uma profundidade que se dependesse apenas do roteiro não teríamos. Seus olhares são maravilhosos, sua fala é essencial e cada gesto e movimento do seu corpo é Angelina expressando algo sobre Malévola. Uma atriz que não tem um rosto de mulher inocente, mas sim, aquele sexy-appeal que já conhecemos bem em seus filmes, e a atriz usa isso criando uma personagem orgânica, sensível, imprevisível e, devo dizer, sexy. Detalhe este que a torna ainda mais interessante e fascinante. 

Dirigido pelo estreante na direção Robert Stromberg, que na realidade é designer de produção e de efeitos visuais de filmes como “As Aventuras de Pi”, “Piratas do Caribe: No Fim do Mundo”, “Jogos Vorazes” e outros, e ganhador de dois Oscars de melhor designer de produção pelos filmes “Avatar” e “Alice no País das Maravilhas”, Stromberg é um profissional que sabe trabalhar com efeitos e construir cenas. Há momentos de puro delírio visual como as sequencias de voo da personagem ou mesmo o visual do mundo das fadas onde vive Malévola. 


Mas dentre tantas qualidades, “Malévola” erra em pontos chaves que prejudicam um melhor aprofundamento nas relações apresentadas no filme. Se os motivos que levaram Malévola ao lado sombrio são apresentados de uma maneira eficiente no início do filme, relacionando sua “maldade” a uma decepção amorosa que sofreu com Stefan, que se tornaria rei e pai da princesa Aurora, esse envolvimento soa extremamente apagado no grande clímax, e a mudança de personalidade de Stefan, sua ganância pelo reino e os motivos que o levaram trair a pessoa que dizia amar tanto, são passados superficialmente tornando-o um personagem apático e pouco interessante dentro da história, e sem impacto algum, o que torna ainda mais banal sua insanidade no já citado grande clímax.

Sem falar também da rapidez que se resolve o sono profundo da famosa princesa, comprovando que os roteiristas estavam pouco interessados na história da Bela Adormecida e também o desleixo que o roteiro tem com as três fadas madrinhas, na obra original três pessoas super protetoras que, apesar do tom cômico, se preocupavam ao máximo com a princesa. No filme, Aurora fica fora de casa até altas horas da noite e não é mostrado nenhum pingo de preocupação das personagens, que só aparecem para fazer piadinhas. 


Mantendo a cultura das mulheres fortes e independentes que não precisam de homens e nem de ninguém para se sobressaírem, “Malévola” tem uma reviravolta que lembra muito o já clássico “Frozen – Uma Aventura Congelante” e é a Disney subvertendo mais uma vez os seus próprios clichês, adaptando suas personagens femininas ao mundo atual. E isso é simplesmente ótimo! 

Malévola” consegue ser a melhor releitura de um conto de fadas até agora. Apesar dos pesares, é um filme que diverte, é visualmente magnifico, estabelece bem a nova visão que tiveram da protagonista e possui uma atriz forte e interessante num papel que requeria justamente alguém do seu perfil. Um entretenimento que vale a pena e merece ser visto. Ponto final.

Comentário por Matheus C. Vilela

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