Pages

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

NoCinema: ÁLBUM DE FAMÍLIA

August: Osage County-EUA
Ano: 2013 - Dirigido por: John Wells
Elenco: Meryl Streep, Julia Roberts, Chris Cooper

NOTA: «««««

Sinopse: August: Osage County conta a história de três irmãs que são obrigadas a voltar para casa e cuidar da mãe viciada em drogas (Meryl Streep), depois que o pai alcoólatra as abandona. O encontro provoca diversos conflitos e revela segredos do passado de cada um.


Um dia aprendi com o grande crítico de cinema Roger Ebert, que faleceu ano passado, que não devemos assistir um filme com a razão, e sim, com o coração. Precisamos nos deixar levar, sem restrições, sem se deixar influenciar por terceiros. Ao assistir “Álbum de Família” fui de coração aberto, e apesar dos problemas, embarquei por um inteiro na obra. Identifiquei-me com alguns aspectos abordados pela história, e o elenco é o combustível que oferece o peso dramático necessário para a eficiência de “Álbum de Família”. 

Escrito por Tracy Letts baseado na peça de sua própria autoria e ganhadora do Pullitzer, e dirigido por John Wells, que em 2010 lançou um filme muito bacana chamado “A Grande Virada”, “Álbum de Família” é um filme sobre relações. Sobre família. Situado em Oklahoma, Letts acentua as raízes culturais daquela região que já foi o berço da civilização norte-americana. Através de personagens como Violet Weston, patriarca da família interpretada por Meryl Streep, conseguimos notar as diferenças de pensamento entre as pessoas de sua geração em contraste com suas filhas e netas. Numa época onde casamentos eram sagrados e a família permanecia sempre unida, independente se eram felizes ou não, o respeito e obediência eram primordiais. Violet é um força da natureza que surge para vomitar em cima de cada membro da família verdades acerca da vida de cada um. Sem receio, ou medo, Violet não teme em agredir as filhas verbalmente, e diagnosticada com câncer na boca e dentro de um casamento infeliz, ela se entrega aos remédios tornando-se uma pessoa ainda mais desequilibrada e sem freios. 


“Álbum de Família” é um filme de mulheres fortes. Os homens são meros coadjuvantes, e percebam como os personagens masculinos sempre estiveram submissos as mulheres do filme. Letts irá adentrar nessa família cavando a fundo os ressentimentos impregnados dentro de cada um ao longo dos anos. Reunidos por um funeral (que não irei revelar de quem), o que era pra ser um momento de união e consolo, se transforma num emaranhado de discussões e revelações guardadas há anos, cuspidas em forma de ofensas e xingamentos. 

Portanto, passar esse ambiente nada tão animador necessita-se de um elenco eficiente. E o elenco de “Álbum de Família” é sem dúvida o maior destaque do filme. Meryl Streep encarna Violet Weston com sua habitual maestria. Cria uma figura melancólica, fisicamente acabada pelos remédios e o câncer, e afetada pelos devaneios causados pela medicação. Streep é um furacão em cena, e transita entre a dor da solidão nunca preenchida pela vida, e a personalidade forte sem floreios e papas na língua que fazem de sua personagem uma pessoa repugnante, mas ao mesmo tempo digna de dolo e pena. De fato, uma das melhores interpretações do ano e merecedora de todo o reconhecimento. 


Julia Roberts mostra extrema competência na pele da filha mais velha de Violet. Debatendo de frente com a mãe, Roberts comprova a ótima atriz que é e faz o seu melhor papel desses últimos anos. Não é apagada por Streep e surge como a mais interessante das filhas. 

O problema de “Álbum de Família” é o pouco aprofundamento em determinados personagens secundários. Enquanto o foco se concentra em Streep e Roberts, os demais são deixados de escanteio e mal finalizados, deixando quesitos em aberto. Há revelações surpreendentes nos momentos finais, mas que não impactam como deveriam, pois justamente os personagens envolvidos são pouco explorados. 


Entretanto, isso não tira totalmente o brilho de “Álbum de Família”, que possui qualidades e um elenco maravilhoso. Um filme que merece nossa atenção!

Comentário por Matheus C. Vilela

0 comentários: