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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

NoCinema: A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS

The Book Thief-EUA
Ano: 2013 - Dirigido por: Brian Percival
Elenco: Sophie Nélisse, Geoffrey Rush, Emily Watson

NOTA: «««««

Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial, uma jovem garota chamada Liesel Meminger sobrevive fora de Munique através dos livros que ela rouba. Ajudada por seu pai adotivo, ela aprende a ler e partilhar livros com seus vizinhos, incluindo um homem judeu que vive na clandestinidade.


Concordo que quando o livro é bom, tem conteúdo, uma adaptação para o cinema daquele material sempre será inferior a ele, ainda que o filme seja muito bom. É uma questão de lógica já que na escrita você possui uma liberdade maior para explorar cada personagem e situações e muito mais espaço para criar algo mais completo. Diferente do filme que é limitado de tempo e, portanto, você precisa pegar os pontos chaves e adaptar o mais fielmente possível. São duas mídias distintas e por isso não gosto de menosprezar um filme justificando ter menos acontecimentos do que se viu no papel. 

Obviamente que é impossível, quando se leu o livro, não ficar a todo instante comparando as duas mídias. É normal do ser humano querer que seja totalmente fiel, página por página o filme. Impossível! E neste “A Menina Que Rouba Livros”, cuja obra literária sou fã, pode não errar na adaptação que faz dos relatos do livro, mas derrapa na construção da tensão e emoções do momento retratado. 


A história se passa durante a Segunda Guerra Mundial em uma cidadezinha alemã fictícia chamada Molching. Nela, antes do estouro da guerra, alemães e judeus viviam normalmente, até o instante em que toda a Alemanha inicia sua chacina contra as raças consideradas inferiores a ela. Dentro desse mundo, a história do autor Markus Zusak busca na Morte o ser ideal para narrar a história da menina alemã Liesel Meminger. Nada mais instigante e oportuno para o período do que ter a Morte contando uma história. A partir daí, conhecemos a vida de Liesel, cuja mãe biológica lhe oferece para adoção e esta é enviada para o casal Hans e Rosa Hubberman, moradores da rua Himmel na cidade Molching. 

Não quero perder tempo contando a história mas saiba desde já que nela a morte será presente na vida dos personagens. Um acontecimento da vida sempre a nossa espera, mas que nunca sabemos quando irá chegar. A morte assusta a protagonista Liesel. A morte assusta os seus pais, amigos, a morte assusta a todos os vivos dentro desse mundo tomado pela guerra onde ninguém está seguro de acordar e ver a luz do dia. Zusak faz questão de explorar esse temor, a futilidade da guerra, e em cada acontecimento do livro “A Menina Que Roubava Livros”, cada sentimento ou momento vivenciado pelos personagens é um momento para se guardar e aproveitar, pois nunca sabemos do amanhã. Se vocês ainda não leram, por favor, leiam “A Menina Que Roubava Livros”. 


Portanto, infelizmente, o filme dirigido por Brian Percival e roteirizado por Michael Petroni, com o próprio autor do livro Markus Zusak auxiliando, é apressado em querer colocar o máximo de acontecimentos do livro e deixa de realizar a construção das suas emoções. Os medos de Liesel iniciados após a morte do irmão mais novo, a passagem de Max Vanderburg, um judeu que os seus pais adotivos protegem dos alemães colocando-o dentro do porão, os momentos de refúgio dos bombardeios até o grande e emocionante clímax, são apagados por um filme que pouco investe no impacto que esses acontecimentos poderiam causar. 

Brian Percival nitidamente quer fazer um melodrama família, e isso não é ruim aparentemente, pois o livro também não é pesado nos seus relatos, mas é incômodo a tamanha superficialidade com que ele lida com a trajetória de Liesel. Nem mesmo a música de John Williams, um entendedor do assunto, afinal, é o fiel colaborador de Spielberg, mas, aqui, nem sua trilha sonora consegue emular a sensação de perigo, ou encanto, ou dor, ou entusiasmo tão sentidos quando se lê o livro. Aliás, um diretor que se daria muito bem adaptando a “A Menina Que Roubava Livros” é o próprio Steven Spielberg, que sabe como emocionar o público. Pensa comigo: um filme que se passa na guerra, com uma criança como protagonista e John Williams na trilha sonora, poxa, foi feito para o Spielberg, e tenho certeza que ele teria feito muita coisa diferente em relação a maneira de explorar a trajetória de Liesel. 


Mas depois de falar tanta coisa contra o filme você deve estar pensando que eu o odiei. Calma! “A Menina Que Roubava Livros” não é uma porcaria de se assistir. É um filme agradável, muito bem feito, com uma fotografia por sinal linda, mas apenas isso. Nada memorável ou da grandeza do livro de Zusak. Talvez para os que não leram a obra literária, o longa tenha um efeito melhor. Já quem leu... É um filme que não saí do “Bom” ou... “Legal”.

Comentário por Matheus C. Vilela

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