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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

NoCinema: ELA

Her-EUA
Ano: 2013 - Dirigido por: Spike Jonze
Elenco: Joaquin Phoenix, Scarlet Johansson, Amy Adams

NOTA: «««««

Sinospe: Theodore (Joaquin Phoenix) é um escritor solitário, que acaba de comprar um novo sistema operacional para seu computador. Para a sua surpresa, ele acaba se apaixonando pela voz deste programa informático, dando início a uma relação amorosa entre ambos. Esta história de amor incomum explora a relação entre o homem contemporâneo e a tecnologia.


Se engana quem acha que “Ela” é uma comédia romântica. Por favor não confie nas classificações dos cinemas e muito menos nas divisões do Globo de Ouro que de vez em quando coloca cada filme na categoria de Comédia/Musical que só confunde a cabeça de muitos. O novo filme de Spike Jonze é um drama extremamente melancólico que busca através de um conceito plausível, e não muito distante de acontecer, retratar uma sociedade cada vez mais vazia e distante no convívio interpessoal, chegando ao ponto de buscar na tecnologia o escape para as decepções que temos ao longo da vida. 

Na história, Theodore (Joaquin Phoenix) é um homem solitário que se separou da esposa há um ano, e ainda sofre os efeitos do rompimento levando a vida da maneira mais frívola e sem graça possível. Ele não consegue entender como uma pessoa que dizia o amar tanto e desejava tão fervorosamente sua presença, decidiu, certo dia, interromper tudo e seguir o seu caminho sozinha. Dentre vários encontros cujas intenções não passavam de mero prazer físico, Theodore encontra em Samantha a parceira ideal. Ela lhe entende, ouve, o deixa a vontade para falar sobre tudo e foi a única que despertou o seu interesse desde o rompimento do matrimônio. A questão é: Samantha não é uma pessoa, mas um Sistema Operacional. 


Só que Jonze trata a questão como algo natural. Estamos em um futuro onde a interação virtual é cada vez mais frequente, e um homem se relacionar com o seu computador é apenas um grão de areia na praia. Algo normal. E através desse conceito, o diretor retrata como o convívio entre as pessoas tem se tornado algo a cada dia banal e sem importância. É o desespero da garota em não querer ser esquecida após o primeiro encontro. É o sexo virtual forçado e súbito. São as pessoas na rua conversando com os seus aparelhos eletrônicos e cada vez mais fechadas dentro do seu próprio universo. Pequenos detalhes que exemplificam nosso mundo moderno de hoje. 

Outra grande sacada do roteiro, também escrito por Skipe Jonze, é não colocar Samantha como um sistema operacional mecânico e engessado. Ela conversa, se interage, ama, tem ciúmes, medos e complexos como qualquer outro ser humano possui. E chega aquele momento que sua relação com Theodore começa a sofrer com o tempo. A medida que vai se expandindo, o mundo de Samantha entra em contraste com o mundo real de Theodore, e no fim, a mensagem que Jonze quer passar é simplesmente esta: o problema está em nós! Não é um outro alguém ou uma máquina que vai resolver nossos problemas, mas nossa atitude em mudar, amadurecer e saber resolver as adversidades, e não jogá-las para debaixo do tapete. 


Como sempre, Joaquin Phoenix nos apresenta uma atuação marcante, movida por sutis expressões que falam tudo sobre o seu personagem. É uma piscada tímida, um sorriso de lado, um ajeitar do óculos, um andar encurvado e outras nuances que falam mais do que palavras. E se a relação de Phoenix com a personagem de Amy Adams é curiosa, aparentando claramente existir ali algo muito maior do que uma amizade, a química de Theodore com Samantha (voz de Scarlett Johansson) é perfeita e um dos grandes trunfos do filme. 

Ela” é uma das obras mais originais produzidas por Hollywood nesses últimos quatorze anos, e acredito que será por muitos outros. Diferente, profundo, melancólico mas muito verdadeiro, “Ela” é um retrato inesquecível do nosso mundo contemporâneo e das relações entre nós seres humanos. Vale a pena!

Comentário por Matheus C. Vilela

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