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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

NoCinema: ROBOCOP

Robocop-EUA
Ano: 2014 - Dirigido por: José Padilha
Elenco: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton

NOTA: «««««

Sinopse: 2028. Já há vários anos os drones têm sido usados para fins militares mundo afora e agora a empresa OmniCorp deseja que eles sejam usados também para o combate ao crime nas grandes cidades. Entretanto, esta iniciativa tem recebido forte resistência nos Estados Unidos. Na intenção de conquistar o povo americano, Raymond Sellars tem a ideia de criar um robô que tenha consciência humana, de forma a aproximá-lo à população. A oportunidade surge quando o policial Alex Murphy sofre um atentado, que o coloca entre a vida e a morte.


É natural, principalmente por se tratar de um clássico, que as pessoas ao assistirem este novo “Robocop” o comparem com o icônico filme de 1987 dirigido por Paul Verhoeven. Inicialmente o temor é grande e a expectativa não tão animadora, ainda mais com uma indústria que já provou inúmeras vezes falhar nos reboots para os dias de hoje de filmes clássicos do cinema. “O Vingador do Futuro” e “Fúria de Titãs” são apenas dois exemplos que não me deixa mentir.

No entanto, sou contra aquela ideia de ao fazer um reboot manter todos os elementos que fizeram do antigo algo memorável. O respeito com a obra original deve existir, e principalmente com os conceitos abordados pela história, mas não necessariamente deve-se fazer um filme igual, e sim, buscar os seus próprios elementos originais. Por isso, comparar o novo “Robocop” com o de Verhoeven é pedir para não gostar mesmo.


Apesar de manter o mesmo conceito base, do policial que se transforma numa máquina de combate contra o crime em Detroit, e que posteriormente se voltará contra os seus criadores, tanto o antigo quanto o novo são filmes completamente diferentes nos rumos que decidem seguir na história. A realidade é outra e a nova versão dirigida pelo brasileiro José Padilha aproveita o cenário atual, principalmente os recentes ataques com drones ministrados pelos EUA em países como Paquistão e Afeganistão para gerar uma discussão sobre o essencial uso da tecnologia, até onde a mídia se encaixa como formadora de opinião e como o governo se porta diante de tais fatos.

Ter um diretor não norte-americano no comando dessas questões abre um leque maior para se ter uma visão abrangente e não patriótica do assunto. Padilha, que ganhou notoriedade mundial com os dois “Tropa de Elite”, possui o cenário perfeito para expor sua visão do narcisismo norte americano. Se com “Tropa de Elite”, Padilha não polpa críticas ao Brasil e seu governo, em “Robocop” o diretor abre vários assuntos e não receia em criticar a política imperialista norte-americana, que invade países buscando o “pacifismo”, porém, o fazem utilizando-se de poder bélico e atitudes extremas.


Daí surge um dos mais importantes e interessantes personagens do filme: Pat Novak (Samuel L. Jackson) como o apresentador de um programa sensacionalista chamado “The Novak Element”. Novak é a favor do uso de drones em solo norte-americano, no filme, único local do planeta que não utiliza robôs como força de pacificação. Constantemente Novak crítica a postura do governo por manter uma lei que proibi o uso de máquinas alegando que elas não conseguem entender as emoções humanas. Entretanto, o mesmo governo que proibi essas máquinas em solo norte-americano, é o mesmo que as utiliza em países do oriente médio sob o discurso de “pacificação” e “melhorias na sociedade”. O que também faz entrar na conversa a mídia como ferramenta de convencimento, como é mostrado na sequência de abertura do filme com os robôs em missão de "paz" no Teerã e a imprensa só mostrando um dos lados.

Deixando de escanteio o ótimo material apresentado por Padilha e o roteirista Joshua Zetumer em um filme cuja história poderia ter caído na ação gratuita e fantasia barata, este novo “Robocop”, em relação ao personagem e às adaptações feitas do original, é um filme que possui qualidades louváveis mas também problemas que incomodam.


Antes de tudo vamos aos pontos positivos. Diferente do antigo, onde o Robocop perdia a memória e a recuperava com o desenrolar da história, no filme de Padilha desde o início ele já sabe quem é, porém, com a Omnicorp buscando criar um policial robô eficiente que agrade o público e eleve as ações da companhia lá em cima, é decidido apagar a memória do personagem e tirar suas emoções. Isso surge como uma atitude impactante, que justifica todo o desencadeamento posterior ao fato.

Como no antigo, Padilha não mostra como foi criado o Robocop e toda sua estrutura. Após o acidente, já vemos Alex Murphy transformado em máquina pronto para uso. Uma das preocupações do público era com a aparência pouco parecida com a de um robô, e a enorme rejeição por não possuir o visual clássico da personagem. A questão é: Padilha respeita o clássico de 1987 e começa o filme mostrando um robô prata que lembra muito o antigo. Depois, o visual muda para preto, por exigências de mercado feitas pela Omnicorp, e os instantes finais é a prova concreta do respeito e carinho dos realizadores pela obra de Verhoeven. E Padilha acertou em cheio ao decidir mostrar a real natureza do policial Alex Murphy após o acidente. Numa cena chocante e memorável, Murphy é desmontado e sentimos sua difícil realidade, o que é bom porque possibilita uma identificação melhor com o novo Robocop.


As cenas de ação é outra qualidade inegável do filme. Padilha já conseguia criar momentos extasiantes nos dois “Tropa de Elite”, principalmente no segundo, e agora com um orçamento de 130 milhões de dólares, o diretor cria sequencias empolgantes, opta por usar mais efeitos práticos e menos efeitos digitais, e ainda quando usa, sabe utilizar sem exageros e nos momentos certos.

Joel Kinnaman, intérprete do Robocop, é pouquíssimo conhecido pelo público e isso ajuda muito pois conseguimos enxergar a personagem além do ator. Não existe ali o peso da fama, o que em muitos casos pode prejudicar. E Kinnaman faz um ótimo trabalho, balanceando bem a figura robótica dos momentos humanos de Alex Murphy.



O elenco de apoio talvez seja o grande chamariz do filme. Se Kinnaman não é tão conhecido, nos coadjuvantes temos o excelente Gary Oldman como o Dr. Dennett Norton, cientista criador do Robocop. O também excelente Michael Keaton como o CEO da OmniCorp Raymond Sellers. Jackie Earle Harley e Abbie Cornish são outros bons destaques e, por último, Samuel L. Jackson encarnando de forma brilhante o já citado Patrick “Pat” Novak, apresentador do programa “The Novak Element”.

Mas dentre tantas qualidades, surpreendentes por assim dizer, em “Robocop” há certos problemas que incomodam. O primeiro deles é justamente a falta de um vilão definido. No início do filme o roteiro aborda o uso dos robôs ED-290 como ferramenta contra o crime, e só volta na questão nos instantes finais do filme, e numa cena de ação apenas. A discussão em torno do assunto é posta de lado e mal é lembrada. Assim acontece com Antoine Vallon (Patrick Garrow), mandante do atentado ao policial Murphy, e também com o próprio Raymond Sellers (Michael Keaton). O filme em nenhum momento consegue criar uma figura ameaçadora, e nem a mudança de atitude de Sellers no final convence. Keaton injeta tanta simpatia ao personagem, que suas ações soam apenas como atitudes normais vindas de um empresário interesseiro. Em nenhum momento Keaton é mostrado como alguém mal e imprevisível. Apenas um vendedor querendo fazer dinheiro. Por isso, a insossa resolução do seu personagem nada impressiona.


Outro ponto incômodo no longa é a família do policial Alex Murphy. Não que a presença da esposa e o filho seja desnecessária, porque não é. Muito mais explorado que no antigo, a relação de Murphy com sua família é até inspiradora, mas acaba prejudicada pela necessidade de usá-los apenas como ferramentas dramáticas em momentos oportunos, onde o personagem necessita de alguma motivação para superar o problema. Fora isso, nada de muito útil ou importante.

Dentre tantos filmes descartáveis que não trazem nenhuma discussão relevante para o público, é admirável ver que "Robocop" consegue ser muito mais do que propõe. Para o bem ou para o mal, bom ou ruim, no minimo, o filme têm conteúdo e traz algo para se pensar e debater. Parabéns para José Padilha neste seu primeiro trabalho fora, conseguindo manter sua ideias e não ficar submetido aos produtores. Vale a pena conferir!

Comentário por Matheus C. Vilela

1 comentários:

Marcelo Castro Moraes disse...

É bom mas poderia ter sido melhor