Ano: 1975
Finalmente, Allen parece ter adquirido a experiência necessária para dirigir sua possível primeira obra-prima. Contando cum humor anárquico (herdado pelos irmãos Marx) prenhe de referências, A Última Noite de Boris Grushenko é uma comédia americana absolutamente genial, que se dá ao direito, ainda, de inserir alguns conceitos filosóficos no meio (todos devidamente satirizados, obviamente).
O roteiro, escrito a 10 mãos (!), conta a história de Boris, um russo covarde e intelectual apaixonado em sua prima, Sonja (Diane Keaton), que, por sua vez, é apaixonada pelo irmão de Boris. Quando a guerra chega, ele se acovarda, mas acaba convidado. Acidentalmente, realiza um ato heroico no campo de batalha, voltando condecorado para casa. Lá, reencontra sua prima e os dois finalmente se apaixonam e se casam. Juntos, bolam o plano de matar Napoleão, para evitar que o país seja dominado.
Desastrado e incomum no meio em que vive (uma família de pessoas fortes e guerreiras), Boris é um personagem cativante justamente por isso. É irresistível suas atrapalhadas na guerra, mal sabendo manusear uma arma. Sua “sensualidade” irreverente (a sequência de “A Flauta Mágica” é hilária) é igualmente encantadora.
Acusado inúmeras vezes de pedante e excessivamente intelectualóide, Allen percorre o caminho inverso construindo muito de seu humor baseado em referências filosóficas que, inseridas no contexto do filme, soam apenas absurdas – e, por isso mesmo, hilárias. Além disso, há sacadas geniais, como a narração inicial, apresentando os personagens. E as referências à Persona e O Sétimo Selo, por exemplo, do diretor Ingmar Bergman, divertem muito os fãs do cineasta sueco.
Allen e Keaton, por fim, têm química invejável, com timing cômico perfeito – e Keaton é ainda mais impressionante em seu papel. Pode-se dizer, portanto, que A Última Noite de Boris Grushenko é a maior comédia de Woody Allen.
Comentário por Júlio Pereira
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