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sábado, 26 de janeiro de 2013

LINCOLN

Lincoln/EUA
Ano: 2012 - Dirigido por: Steven Spielberg

Sinopse: Baseado no livro “Team of Rivals: The Genius of Abraham Lincoln”, de Doris Kearns Goodwin, o filme se passa durante a Guerra Civil norte-americana, que acabou com a vitória do Norte. Ao mesmo tempo em que se preocupava com o conflito, o o 16º presidente norte-americano, Abraham Lincoln (Daniel Day-Lewis), travava uma batalha ainda mais difícil em Washington. Ao lado de seus colegas de partido, ele tentava passar uma emenda à Constituição dos Estados Unidos que acabava com a escravidão.


Abraham Lincoln foi o 16º presidente dos Estados Unidos e um dos maiores ícones que o país já teve. Tomou posse em março de 1861 e despertou a ira de muitos democratas e estados sulistas gerando em seu governo a eclosão da Guerra Civil Americana. Como um líder nato, Lincoln enfrentou a crise de frente tomando medidas para enfraquecer o Sul, como por exemplo: o fechamento dos portos sulistas e o aumento, acima do permitido pela lei, do seu exército. A guerra durou 4 anos (1861-1865) com saldo de mais ou menos 600 mil mortes. 

O filme de Steven Spielberg não foca na vida em si de Abrahan Lincoln nem nos seus primeiros anos de governo. O interesse do diretor e do roteirista Tony Kushner (que escreveu os ótimos “Angels in América” e “Munique”, este último também de Spielberg) é justamente focar nos últimos meses do president (que foi assassinato em 1865) focando em sua luta pela aprovação da 13ª emenda onde tornaria livre todos os escravos do país tornando lei que todo ato de escravidão e trabalhos forçados seria considerado crime, salvo apenas como punição de um crime que a pessoa possa ter cometido.


Comedido como geralmente não é, Spielberg cria um filme político, mostrando os bastidores desta e os inúmeros jogos de interesse envolvendo rivais democratas e republicanos. Juntamente com isso, Spielberg também mescla o lado família do presidente, mostrando seu meio distante, mas carinhoso lado paterno, assim como sua relação com a esposa, uma mulher temperamental e com gênio forte. 

Podemos ver nas feições de Lincoln, em sua postura e em seu andar lento e cansado o quão difícil foram os seus anos de mandado. O Abraham Lincoln que vemos neste “Lincoln” está desgastado, segurando nas costas não só o peso de uma nação como também o da própria família, principalmente com a questão do filho mais velho cujo maior desejo é lutar na guerra sendo que anos antes ele já havia perdido outro filho nela. 


“Lincoln” é um filme discursivo, com muitos diálogos e que necessita de paciência e disposição. Temos sim os momentos emotivos que Spielberg sabe fazer muito bem, e que aqui, controla a mão mantendo consistente o ritmo do filme e tais momentos nunca soam exagerados ou forçados. Pelo contrário, tais cenas conseguem não só pela sutileza da direção, mas também pela competência dos atores e da trilha sonora de John Williams ser bem tocante. E nas partes de trama política, “Lincoln” prende a nossa atenção gerando interesse e um envolvimento bem empolgante, não só pela busca da aprovação da 13ª emenda como também pelas próprias histórias contadas pelo presidente. Principalmente quando Spielberg injeta pequenas doses de humor em algumas resoluções, realizando um filme de tribunal bastante competente. Mas claro, gostar de política, ou ao menos de história ajudam bastante no envolvimento para com a obra. 

Além de todas essas qualidades notáveis, o elenco é outro fator sensacional. Daniel Day-Lewis interpreta um Lincoln tão calmo, tão pensativo e tão “Presidente”, mas ao mesmo tempo tão farto, cansado e triste onde não é preciso de cenas dramáticas para perceber tal detalhe, apenas no olhar, na textura da pele, no andar e no próprio falar já percebemos tudo isso. E Day-Lewis interpreta magistralmente esse papel sendo de longe o favorito ao Oscar de Melhor Ator e vai levar sem dúvida! Será o seu terceiro prêmio e todos como ator principal. O único ator a conseguir tal feito até hoje. Nem Jack Nicholson! 


Sally Field oferece uma imponência, mas ao mesmo tempo uma humanidade a esposa do presidente onde apenas uma determinada cena da atriz já faz valer sua presença ali. Joseph Gordon Levitt interpreta o filho mais velho do presidente com o frescor e competência com quem vem mostrando cada vez mais em Hollywood, e junto com Day-Lewis consegue não ser ofuscado. De mesmo modo Tommy Lee Jones está excelente e todos os demais atores como Jackie Earle Harley, James Spader, Jared Harris, Lee Pace e John Hawks ajudam mais ainda nesse formidável e talentoso elenco. 

A produção é outro detalhe que nem se fala. Apaixonei-me pela estupenda fotografia de Janusz Kaminski, colaborador assíduo de Spielberg que já ganhou dois Oscar, um por “A Lista de Schindler” e outro por “O Resgate do Soldado Ryan”, e aqui não só faz um belo jogo de luzes, sendo grande parte dos cenários iluminados pela luz do sol vinda da janela ou por velas acesas, a silhueta do presidente diante da claridade é nada menos que soberba. 


Gostei também da trilha sonora de John Williams, que assim como o diretor, está contido e equilibrado criando a música certa não só para os momentos mais patrióticos como também para aqueles mais sensíveis, apostando no som sutil e delicado do piano. 

Enfim, não considero “Lincoln” uma biografia. Biografia é quando você faz um relato inteiro da vida de uma pessoa, como o filme “Gandhi” por exemplo. Aqui, nós temos o relato de um determinado momento na vida de um líder, um momento decisivo cujas ações mudaram para sempre a história de um país e o foco é este.


E não vejo problema de no final Spielberg buscar levar o público às lagrimas, pois ainda que breve, a passagem da morte do presidente é tocante e sob medida. Afinal, cinema não é isso? Filme seco também ninguém aguenta! 

Portanto, “Lincoln” é um dos melhores de Spielberg e vale a pena assistir sem dúvida alguma. Uma obra prima de diálogos estupendos, atuações soberbas e uma produção impecável. Parabéns Steven!

Nota: «««««

Comentário por Matheus C. Vilela

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