Frankenweenie/EUA
Ano: 2012 - Dirigido por: Tim Burton
Sinopse: Victor (Charlie Tahan) adora fazer filmes caseiros de terror, quase sempre estrelados por seu cachorro Sparky. Quando o cão morre atropelado, Victor fica triste e inconformado. Inspirado por uma aula de ciências que teve na escola, onde um professor mostra ser possível estimular os movimentos através da eletricidade, ele constrói uma máquina que permita reviver Sparky. O experimento dá certo, mas o que Victor não esperava era que seu melhor amigo voltasse com hábitos um pouco diferentes.
Para quem não sabe, Tim Burton, no inicio de sua carreira, trabalhou no departamento de animação dos estúdios Disney, esteve ao lado de nada mais nada menos que grandes nomes da animação como John Lasseter (diretor de "Toy Story"), Brad Bird (diretor de "Os Incríveis" e "Ratatouiille"), Henry Selick (diretor de "O Estranho Mundo de Jack" e "Coraline") e entre outros. Trabalhou em filmes como “Tron – Uma Odisséia Eletrônica” e “O Caldeirão Mágico”, e apresentou a Disney o roteiro para o seu primeiro curta chamado Vincent, sobre um menino solitário que sonha em ser o ator icônico do horror clássico Vincent Price.
Porém, o estilo sombrio não era muito o padrão do estúdio, mas devido à inventividade e criatividade de Burton, a Disney decidiu investir em seu segundo curta metragem chamado “Frankenweenie”, sobre um menino solitário que perde o seu cão e decide trazê-lo de volta por meio de uma experiência a lá Frankenstein. O filme, que deveria estrear antecedendo “Pinóquio” em 1984 acabou arquivado e Burton posteriormente demitido da Disney.
Não vou me alongar nessa trajetória de Tim Burton porque o que interessa é falarmos sobre o longa “Frankenweenie”. Mas antes, percebam que desde os seus primeiros trabalhos, o universo de Burton consiste em personagens excêntricos e solitários que buscam consolo em um mundo apenas seu. Isso era o próprio Tim Burton na vida real. Um garoto que sofreu muito durante a infância por ser considerado esquisito, sempre foi muito rejeitado, teve poucos amigos e quase não se envolvia com ninguém. Então, sua saída foi buscar no cinema sua alegria, daí nasceu à paixão por filmes de horror, que consistia em obras com personagens também esquisitos e rejeitados pela sociedade.
O filme “Edward – Mãos de Tesoura” talvez seja o maior exemplo de Tim Burton para explicar a sua infância. Edward é o próprio Burton ali, um sujeito diferente, que causava espanto e arrepios. Mas era doce por dentro, só tinha que conhecer. E desde “Edward – Mãos de Tesoura”, Burton, apesar de ir lidando com o tema, nunca realizou outro filme tão autoral e pessoal. Até agora!
“Frankenweenie” é um ressurgimento do diretor que volta a mexer com o seu passado e aproveita para mostrar suas grandes paixões da infância. E uma das melhores coisas do filme é que, felizmente, voltamos a nos encontrar com o Burton de antigamente, aquele sujeito estranho que crescemos juntos e aprendemos a gostar.
Desde 1991 não víamos o diretor abrir tanto o coração e apresentar uma obra tão íntima, pessoal e sensível como este “Frankenweenie”. Digo sensível porque o longa nos apresenta o mais maduro filme de sua carreira no quesito drama. A relação do protagonista Victor para com o seu cachorro Sparky são belíssimas. Burton capta e transmite com lágrimas à dor, o sofrimento de uma perda, e os primeiros minutos junto com o final de “Frankenweenie”, é impossível não se emocionar com o filme.
Mas “Frankenweenie” é muito mais do que um drama de seu próprio diretor. O filme é também uma apresentação da paixão de Burton pelo cinema de horror clássico, que foi tão presente em sua infância. A decisão de fazer o filme em preto e branco é justamente para criar essa nostalgia do cinema antigo, e durante todo o filme, podemos observar inúmeras referências a grandes paixões e inspirações presentes em toda a sua carreira. O clímax, numa sequencia muito empolgante e belíssima que relembra muito os grandes clássicos de monstros do cinema, Burton homenageia obras como “Godzilla”, de 1954, a múmia, Drácula, lobisomem e obviamente o próprio Frankenstein, a grande base do filme. Eu vi até uma referência aos Gremlins. E, como não podia faltar, Burton também homenageia dois de seus grandes ídolos: Vincent Price e Christopher Lee, que já viveu o Drácula no cinema.
Portanto, “Frankenweenie” é o trabalho mais pessoal e o melhor filme de Tim Burton desde “Edward – Mãos de Tesoura”. Sou apaixonado por “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, “Ed Wood”, “Bettlejuice”, “A Noiva Cadáver”, “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”, “Sweeney Todd”, “O Estranho Mundo de Jack”, e é claro, o próprio “Edward”. Porém, impressionantemente “Frankenweenie” conseguiu trazer uma nostalgia, uma emoção que há muito não sentia nos filmes de Burton. Saí do cinema ainda vivendo o filme, emocionado e feliz por ver que esse grande diretor provou de vez que não é apenas um diretor de visual, mas sim, um cineasta. Um cineasta que criou o seu próprio estilo, investiu nele e ainda consegue nos impressionar.
O Tim Burton de “Frankenweenie” não é o Tim Burton de “Alice no País das Maravilhas”, de um “Planeta dos Macacos” ou mesmo do recente “Sombras da Noite”. Aqui, temos o Tim Burton que conhecemos, que crescemos juntos, e agora, mostrando-se bem mais maduro e sensível e apresentando um dos seus melhores filmes, e sem dúvida, até agora, a melhor animação de 2012. Bem vindo de volta querido Tim Burton!
Nota: «««««
Comentário por Matheus C. Vilela
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